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EditorialNovembro-Dezembro 2018 | Volume 47 — Número 6
Diabetes e família
Isabel Ramôa* A diabetes continua a aumentar em todo mundo e os últimos dados da Federação Internacional da Diabetes (IDF) apontam para 425 milhões de pessoas com diabetes. Portugal apresenta-se ainda com uma das maiores prevalências entre os países europeus, 13,3% de acordo com os últimos dados do Observatório Nacional da Diabetes. Preocupam os muitos casos por diagnosticar (5,8%) com especial relevância no sexo masculino. Dos casos diagnosticados nem sempre o controlo dentro dos objectivos alvo é atingido, o que traz consequências a médio e longo prazo. Sendo a Diabetes Tipo 2 reconhecidamente uma doença muito relacionada com o estilo de vida que as sociedades têm vindo a adoptar, por todos os continentes se implementam programas no sentido de reverter esta condição. Mas essas sociedades continuam ainda a oferecer produtos que habilidosamente são publicitados como “modas” e que contribuem para consumos desadequados. Ou então porque são produzidos a baixos custos, dado o facto do açúcar, a gordura e o sal serem conservantes baratos. Por outro lado, os desequilíbrios do mundo são evidentes e outras circunstâncias podem hoje ser também consideradas factores de risco para a diabetes, como a pobreza, baixa escolaridade, minorias étnicas, migrações e dificuldade de acesso aos cuidados de saúde, o que a caracteriza na verdade a diabetes não só como uma patologia endócrina e de cariz genético influenciada pelo meio ambiente, mas também uma doença social. É por isso indispensável que se promova o desenvolvimento social, as condições de trabalho e de vida, acessibilidade aos cuidados de saúde em simultâneo com a melhoria da literacia na saúde. Em 14 de Novembro comemorou-se o Dia Mundial da Diabetes que é também o dia em que nasceu Frederick Banting, um dos prémios Nobel da Medicina e Fisiologia pela descoberta da insulina em 1923. Este dia pretende internacionalmente sensibilizar as populações e entidades políticas para esta crescente condição clínica que tem uma enorme carga na saúde e na economia dos países. Como mensagens chave a IDF diz-nos que no mundo 1 em cada 11 adultos tem diabetes, que 1 em cada 6 nascimentos é afectado por hiperglicemia durante a gravidez, que 1 em cada 2 adultos não está diagnosticado, que 2/3 das pessoas com diabetes vivem em áreas urbanas, também 2/3 dos diabéticos estão em idade activa, e ainda que há mais de 1 milhão de crianças e adolescentes com diabetes tipo1. O lema lançado pela IDF para 2018 e 2019 para as comemorações do Dia Mundial da Diabetes foi “Diabetes e família”. O diagnóstico de diabetes traz impacto na pessoa e também na sua família, mas é igualmente na família que pode estar a principal ajuda ao controlo e a solidariedade exigida nas mudanças necessárias. Por outro lado, a família pode promover aprendizagens inter-geracionais quer no transmitir de tradições para os mais novos, quer na modernização dos mais velhos, desde que as ideias sejam devidamente desmistificadas e aferidas à luz do conhecimento actual. Por isso, a educação para a saúde é essencial para as boas práticas, o que já vai acontecendo nas escolas e nos sistemas de saúde, e pode prolongar-se no seio das famílias de modo a ter o seu contributo na prevenção desta pandemia. O círculo azul – Unidos pela Diabetes – será assim constituído por muitos círculos que se interceptarão, e o que representa a família poderá, pelos afectos que lhe estão associados, ser um dos mais eficazes nesta luta. *Coordenadora da Diabetes na ULS do Baixo Alentejo Secretária geral da Sociedade Portuguesa de Diabetologia |