O último estudo do Barómetro Covid-19 da Escola Nacional de Saúde Pública mostra que mais de 60% dos casos suspeitos em profissionais de Saúde não foram submetidos a vigilância ativa e apenas 1/4 realizou o teste nas primeiras 24h. Com um elevado número de profissionais a revelar níveis elevados de ansiedade e pressão elevada, quase 40% reporta ausência de apoio dos Serviços de Saúde Ocupacional.
O questionário dirigido a profissionais de saúde recolheu, entre os dias 2 e 10, 4.212 respostas e 4.126 médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, assistentes operacionais, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos e os profissionais das carreiras laboratoriais quiseram responder. Destes, 36,7% trabalham em áreas dedicadas ao tratamento de doentes ou suspeitos COVID-19, nomeadamente em Cuidados Primários (39,1%), Urgências (31,8%), Enfermarias (21,7%), em Unidades de Cuidados Intensivos (12,6%) e em outros locais (19,5%).
“A realidade concreta aponta para que mais de 10% de todos os infetados sejam profissionais de saúde que, para além de constituir um grupo de risco específico quando a doença é contraída na prestação de cuidados aos doentes pode, na atual fase pandémica, também constituir potencial risco para os seus contactos”, explicam os responsáveis pelo Departamento de Saúde Ocupacional e Ambiental da ENSP, através de Florentino Serranheira, coordenador executivo do estudo.
De facto, o questionário encontrou 13,6% de casos suspeitos, com destaque para os enfermeiros (35,1%) e os médicos (18,9%). No entanto, apenas 38,6% foram submetidos a vigilância ativa por parte das entidades responsáveis, os Serviços de Saúde Ocupacional e/ou as Autoridades de Saúde, destacando-se que, entre os que trabalham em área de doentes COVID-19, somente 40% foram vigiados de forma ativa.
Do total de respondentes 34,1% não realizou a automonitorização diária dos sintomas, medida que consta, desde o dia 21 de março, das orientações da Direção-Geral de Saúde. Assinala-se que no grupo profissional dos Assistentes Operacionais essa percentagem atinge 46,7%, sendo também a 15% de casos suspeitos.
Dos testados (73,3%) apenas 1/4 realizou o teste nas primeiras 24 horas, tendo quase 30% realizado o teste mais de 72 horas após a suspeição, inclusivamente alguns trabalhando em área dedicada a doentes (ou suspeitos) COVID-19. Foram positivos 64 profissionais de saúde.
Relativamente às condições de trabalho, destaca-se a ausência de apoio dos Serviços de Saúde Ocupacional em mais de um terço dos respondentes (38,4%), o que, segundo Florentino Serranheira, “é revelador das fragilidades organizacionais em Saúde Ocupacional, ou mesmo a sua inexistência”.
A disponibilidade de equipamentos de proteção individual - máscaras, viseiras, luvas, etc., é classificada como moderada para cerca de metade dos profissionais (47,7%) e como insuficiente em cerca de um terço (30,5%). Quando analisadas as respostas dos profissionais que se encontram em áreas COVID-19, quase metade dos profissionais, considera a disponibilidade destes equipamentos mais adequada, sendo considerada insuficiente em apenas 24,7%.
A presença de fadiga é referida como moderada a elevada por 76,7% dos profissionais que, apesar do elevado nível de pressão em que se encontram (65,1%), ainda se sentem em condições para tomar decisões rápidas no contexto da prestação de cuidados (87%) e afirmam poder contar com um bom suporte dos colegas (84,6%).
No entanto, apenas 2,2% dos respondentes apresentam níveis de ansiedade normais, com mais de dois terços dos inquiridos (68,8%) a apresentar ansiedade acima dos considerados normais. São os médicos o grupo de profissionais de saúde com maiores níveis de ansiedade, ainda que essa diferença não seja significativa. Em áreas dedicadas a doentes ou suspeitos COVID-19 os mais elevados valores de ansiedade são reportados em áreas de Cuidados Primários (35,4%) seguidos pelos que trabalham em Urgências Hospitalares (18%).
Terminada esta análise, o grupo de investigação do Barómetro Covid-19 da Saúde Ocupacional vai continuar a focar-se neste grupo de profissionais, com o lançamento de um novo questionário na quinta-feira. O objetivo “é criar conhecimento científico que possa ser útil para os Serviços de Saúde Ocupacional, para as Unidades de Saúde e para os decisores em políticas públicas de saúde, tendo em vista a proteção dos profissionais de saúde”, conclui o investigador.
Sobre o Barómetro Covid-19:
O Barómetro COVID-19 é um projeto de investigação da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP-NOVA) que pretende contribuir, em tempo útil, aos desafios impostos pela pandemia global.
Uma equipa multidisciplinar de investigadores, médicos de Saúde Pública, epidemiologistas, estatísticos, economistas, sociólogos, e psicólogos, entre outros, acompanham o desenvolvimento desta pandemia em Portugal e no Mundo, de diversas perspetivas.
Com este projeto, a ENSP-NOVA pretende disponibilizar periodicamente à sociedade dados efetivos e análises científicas sobre a pandemia, com o objetivo de contribuir ativamente para a sua compreensão, assegurar uma ferramenta de apoio à tomada de decisão e gerar conhecimento robusto, que possa ser útil em situações futuras | www.ensp.unl.pt
Ficha Técnica do “Saúde Ocupacional dos profissionais de saúde – Barómetro COVID-19”
Amostra: os dados apresentados dizem respeito ao primeiro questionário aos profissionais de saúde com 4.212 respondentes, recolhidos entre os dias 2 e 10 de abril de 2020.
Recolha de dados: questionário online de preenchimento individual, partilhado nas redes sociais e através de endereço eletrónico.
Periodicidade: prevê-se que o preenchimento do questionário seja realizado em três momentos, de 15 em 15 dias nos meses de abril e maio e os resultados sejam apresentados igualmente com periodicidade quinzenal.
Consentimento informado: os dados refletem apenas as respostas dos participantes que manifestaram expressamente o seu consentimento para participar no estudo.
Considerações: estes resultados dizem respeito a um questionário que está a ser aplicado online a todos os profissionais de saúde. É de participação voluntária e anónima, sem se pretender qualquer tipo de generalização. Os dados traduzem a perceção individual de cada profissional de saúde e espelham a forma como decorreu a sua atividade no local de trabalho nos últimos 15 dias. Os resultados apresentados incluem apenas os questionários considerados válidos, após verificação e controlo. Estes resultados dizem respeito ao primeiro questionário de um estudo que se encontra a decorrer, pelo que os resultados ainda devem ser interpretados com o devido cuidado.
Equipa: António Sousa Uva e Florentino Serranheira (Coordenação Científica); Florentino Serranheira (Coordenador Executivo); Ema Sacadura Leite, Alexandra Suspiro, Susana Viegas.
O questionário dirigido a profissionais de saúde recolheu, entre os dias 2 e 10, 4.212 respostas e 4.126 médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e terapêutica, assistentes operacionais, farmacêuticos, nutricionistas, psicólogos e os profissionais das carreiras laboratoriais quiseram responder. Destes, 36,7% trabalham em áreas dedicadas ao tratamento de doentes ou suspeitos COVID-19, nomeadamente em Cuidados Primários (39,1%), Urgências (31,8%), Enfermarias (21,7%), em Unidades de Cuidados Intensivos (12,6%) e em outros locais (19,5%).
“A realidade concreta aponta para que mais de 10% de todos os infetados sejam profissionais de saúde que, para além de constituir um grupo de risco específico quando a doença é contraída na prestação de cuidados aos doentes pode, na atual fase pandémica, também constituir potencial risco para os seus contactos”, explicam os responsáveis pelo Departamento de Saúde Ocupacional e Ambiental da ENSP, através de Florentino Serranheira, coordenador executivo do estudo.
De facto, o questionário encontrou 13,6% de casos suspeitos, com destaque para os enfermeiros (35,1%) e os médicos (18,9%). No entanto, apenas 38,6% foram submetidos a vigilância ativa por parte das entidades responsáveis, os Serviços de Saúde Ocupacional e/ou as Autoridades de Saúde, destacando-se que, entre os que trabalham em área de doentes COVID-19, somente 40% foram vigiados de forma ativa.
Do total de respondentes 34,1% não realizou a automonitorização diária dos sintomas, medida que consta, desde o dia 21 de março, das orientações da Direção-Geral de Saúde. Assinala-se que no grupo profissional dos Assistentes Operacionais essa percentagem atinge 46,7%, sendo também a 15% de casos suspeitos.
Dos testados (73,3%) apenas 1/4 realizou o teste nas primeiras 24 horas, tendo quase 30% realizado o teste mais de 72 horas após a suspeição, inclusivamente alguns trabalhando em área dedicada a doentes (ou suspeitos) COVID-19. Foram positivos 64 profissionais de saúde.
Relativamente às condições de trabalho, destaca-se a ausência de apoio dos Serviços de Saúde Ocupacional em mais de um terço dos respondentes (38,4%), o que, segundo Florentino Serranheira, “é revelador das fragilidades organizacionais em Saúde Ocupacional, ou mesmo a sua inexistência”.
A disponibilidade de equipamentos de proteção individual - máscaras, viseiras, luvas, etc., é classificada como moderada para cerca de metade dos profissionais (47,7%) e como insuficiente em cerca de um terço (30,5%). Quando analisadas as respostas dos profissionais que se encontram em áreas COVID-19, quase metade dos profissionais, considera a disponibilidade destes equipamentos mais adequada, sendo considerada insuficiente em apenas 24,7%.
A presença de fadiga é referida como moderada a elevada por 76,7% dos profissionais que, apesar do elevado nível de pressão em que se encontram (65,1%), ainda se sentem em condições para tomar decisões rápidas no contexto da prestação de cuidados (87%) e afirmam poder contar com um bom suporte dos colegas (84,6%).
No entanto, apenas 2,2% dos respondentes apresentam níveis de ansiedade normais, com mais de dois terços dos inquiridos (68,8%) a apresentar ansiedade acima dos considerados normais. São os médicos o grupo de profissionais de saúde com maiores níveis de ansiedade, ainda que essa diferença não seja significativa. Em áreas dedicadas a doentes ou suspeitos COVID-19 os mais elevados valores de ansiedade são reportados em áreas de Cuidados Primários (35,4%) seguidos pelos que trabalham em Urgências Hospitalares (18%).
Terminada esta análise, o grupo de investigação do Barómetro Covid-19 da Saúde Ocupacional vai continuar a focar-se neste grupo de profissionais, com o lançamento de um novo questionário na quinta-feira. O objetivo “é criar conhecimento científico que possa ser útil para os Serviços de Saúde Ocupacional, para as Unidades de Saúde e para os decisores em políticas públicas de saúde, tendo em vista a proteção dos profissionais de saúde”, conclui o investigador.
Sobre o Barómetro Covid-19:
O Barómetro COVID-19 é um projeto de investigação da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade NOVA de Lisboa (ENSP-NOVA) que pretende contribuir, em tempo útil, aos desafios impostos pela pandemia global.
Uma equipa multidisciplinar de investigadores, médicos de Saúde Pública, epidemiologistas, estatísticos, economistas, sociólogos, e psicólogos, entre outros, acompanham o desenvolvimento desta pandemia em Portugal e no Mundo, de diversas perspetivas.
Com este projeto, a ENSP-NOVA pretende disponibilizar periodicamente à sociedade dados efetivos e análises científicas sobre a pandemia, com o objetivo de contribuir ativamente para a sua compreensão, assegurar uma ferramenta de apoio à tomada de decisão e gerar conhecimento robusto, que possa ser útil em situações futuras | www.ensp.unl.pt
Ficha Técnica do “Saúde Ocupacional dos profissionais de saúde – Barómetro COVID-19”
Amostra: os dados apresentados dizem respeito ao primeiro questionário aos profissionais de saúde com 4.212 respondentes, recolhidos entre os dias 2 e 10 de abril de 2020.
Recolha de dados: questionário online de preenchimento individual, partilhado nas redes sociais e através de endereço eletrónico.
Periodicidade: prevê-se que o preenchimento do questionário seja realizado em três momentos, de 15 em 15 dias nos meses de abril e maio e os resultados sejam apresentados igualmente com periodicidade quinzenal.
Consentimento informado: os dados refletem apenas as respostas dos participantes que manifestaram expressamente o seu consentimento para participar no estudo.
Considerações: estes resultados dizem respeito a um questionário que está a ser aplicado online a todos os profissionais de saúde. É de participação voluntária e anónima, sem se pretender qualquer tipo de generalização. Os dados traduzem a perceção individual de cada profissional de saúde e espelham a forma como decorreu a sua atividade no local de trabalho nos últimos 15 dias. Os resultados apresentados incluem apenas os questionários considerados válidos, após verificação e controlo. Estes resultados dizem respeito ao primeiro questionário de um estudo que se encontra a decorrer, pelo que os resultados ainda devem ser interpretados com o devido cuidado.
Equipa: António Sousa Uva e Florentino Serranheira (Coordenação Científica); Florentino Serranheira (Coordenador Executivo); Ema Sacadura Leite, Alexandra Suspiro, Susana Viegas.