EditorialJulho 2014 | Volume 42 — Número 1
WONCA Europa 2014 – um encontro com o mundo
Daniel Pinto* Entre 2 e 5 de julho decorreu a 19.º conferência da WONCA Europa, cuja organização esteve a cargo da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF). Juntaram-se em Lisboa perto de 3800 participantes de 70 países, sob o lema “novas rotas para a medicina geral e familiar”. As conferências da WONCA são uma oportunidade para contactar com médicos de família de outros países e perceber quão variada é esta área da medicina. Muitos médicos de família europeus trabalham por conta própria ou gerem pequenas clínicas, em sistemas de saúde onde o estado é apenas um comprador e regulador de serviços. Entenda-se que na grande maioria destes casos, pelo menos na Europa, a saúde continua a ser mais ou menos gratuita para os cidadãos, sendo o médico pago pelo Estado e não pelo utente que vem à consulta. Alguns destes médicos são pagos em sistemas de capitação, com uma verba fixa por cada utente que regularmente os visita. Muitos são pagos em sistemas de fee-for-service ou, à peça, por cada ato que executam. E um número crescente é pago num sistema misto com salário, capitação, fee-for-service e incentivos por desempenho. Poucos são pagos por salário fixo como funcionários do estado. Cada um destes modelos tem vantagens e limitações próprias. Em alguns países os médicos de família têm listas de utentes fixas, noutros, o utente tem liberdade para escolher o médico ou até recorrer diretamente a diferentes especialidades. Nuns sistemas de saúde os médicos de família cuidam de uma grande lista de utentes ao mesmo tempo que gerem uma equipa alargada de outros profissionais de saúde; noutros trabalham com listas mais pequenas, mas isolados, por vezes mesmo sem enfermeiro ou secretariado. Em alguns casos os médicos de família asseguram todo o tipo de cuidados, por vezes realizando até cirurgias de emergência; noutros delegam tarefas como consultas de vigilância de grávidas e crianças ou gestão de doenças crónicas para outros profissionais. Para muitos médicos de família, uma demora de dois ou três dias para agendamento de uma consulta é impensável, para outros é uma utopia. Apesar de todas estas diferenças, muitas das características fundamentais da especialidade são comuns e algumas dificuldades existem onde quer que se encontre um médico de família. O seguimento das pessoas ao longo do tempo, a construção de uma relação de proximidade, a abordagem holística ou a comunicação frequentemente difícil com os outros especialistas são alguns dos aspetos que descrevem o trabalho dos médicos de família em todo o mundo. A conferência da WONCA Europa é, assim, uma forma de alargamos os nossos horizontes, de questionarmos o que fazemos, de aprendermos com os outros. A WONCA Europa foi antecedida pela pré-conferência do Movimento Vasco da Gama, que teve lugar 1 e 2 de julho. A organização que junta os internos de medicina familiar e os jovens médicos de família Europeus comemorou 10 anos. São 10 anos a aproximar os internos e jovens médicos de família da Europa, a possibilitar que a troca de experiências e de conhecimento se mantenha viva muito para além das conferências. A 19.º conferência da WONCA Europa serviu também para mostrar como a medicina geral e familiar tem evoluído em Portugal. Muito claramente, as comunicações e posters apresentados pelos delegados Portugueses em nada ficam a dever aos dos restantes países. A participação portuguesa foi também notória na discussão dentro das salas, com moderadores e intervenções de elevada qualidade. No meio de um programa com centenas de opções, sobra apenas alguma pena por não ser possível estar em duas ou três sessões ao mesmo tempo e, claro, a vontade de voltar a participar. *Departamento de Medicina Geral e Familiar Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa |