EditorialAbril 2014 | Volume 41 — Número 4
Pequenas picadas, grandes ameaças
Edmundo Bragança de Sá Foi sob este tema que a Organização Mundial de Saúde(OMS) quis assinalar o Dia Mundial da Saúde a 7 de abril deste ano. Segundo esta organização, mais de metade da população mundial está em risco de adquirir doenças transmitidas por vetores, tais como a malária, o dengue, a leishmaníase, a schistosomíase, a febre amarela, a doença de Lyme e outras febres escaro-nodulares. Em cada ano, mais de mil milhões de pessoas são infetadas pela picada de pequenos vetores e mais de um milhão de pessoas morre vítima das doenças por eles transmitidas. A boa notícia que a OMS quer salientar nesta efeméride é que a maior parte destas doenças é evitável, desde que os governos, as comunidades, as famílias e cada indivíduo adotem medidas protetoras das picadas dos vetores. Intervenções simples custo-efetivas, tais como redes mosquiteiras tratadas com inseticidas e aplicação de repelentes de insetos no interior das casas, têm demonstrado salvar milhões de vidas. Tal como diz a Diretora-Geral da OMS, Dra. Margaret Chan, no século XXI ninguém deveria morrer por uma simples picada de um mosquito, de uma mosca ou de uma carraça. Ainda segundo a OMS, as doenças transmitidas por vetores afetam em particular as populações mais pobres com deficientes condições de alojamento e higiénico-sanitárias, assim como os indivíduos mal- -nutridos ou imunodeficientes. A maior parte dos vetores são pequenos insetos que podem transmitir doenças infeciosas entre humanos ou de animais para humanos durante a sua refeição de sangue. Os mais conhecidos são os mosquitos mas também podem ser moscas, carraças, pulgas e moluscos de água. Das doenças transmitidas por vetores, a schistosomíase é a mais frequente afetando cerca de 240 milhões de pessoas em todo o mundo e em particular as crianças que vivem perto de águas contaminadas. Nas últimas duas décadas muitas doenças transmitidas por vetores têm reemergido ou disseminado para outras partes do globo em resultado das alterações climáticas e ambientais, mudanças nas práticas agrícolas e novas urbanizações mal planeadas. Em consequência disso, as doenças transmitidas por vetores deixaram de estar confinadas aos grupos populacionais acima referidos e passaram a atingir novos grupos de pessoas, em especial turistas e viajantes de negócios. A febre do dengue é o exemplo mais atual, atingindo mais de 2,5 mil milhões de pessoas em cerca de 100 países incluindo Portugal. Também a malária tem sido reencontrada na Grécia cerca de 40 anos depois. Por isso a Postgraduate Medicine dedica o simpósio deste número de abril às doenças dos viajantes, em particular às transmitidas pela picada de mosquitos e artrópodes, esperando desta forma ajudar os Médicos de Família na sua abordagem aos viajantes, tanto antes como depois da viagem. |