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EditorialNovembro-Dezembro 2016 | Volume 45 — Número 6
Olhos na diabetes
Edmundo Bragança de Sá No ano passado cerca de 415 milhões de adultos em todo o mundo tinham diabetes mellitus (DM) e tudo leva a crer que esta epidemia crescente possa atingir 642 milhões de adultos, ou seja 10% da população mundial, até ao ano 2040. Um em cada dois diabéticos adultos desconhece ter a doença e este atraso no diagnóstico torna-os particularmente vulneráveis ao desenvolvimento de complicações com incapacidade significativa e morte prematura. De facto, quase 70% dos casos de DM2 (a que corresponderão 160 milhões de casos em 2040) poderiam ser prevenidos ou a sua progressão retardada se fossem adotados estilos de vida saudáveis. Em muitos países, a DM é a principal responsável pelo aparecimento de cegueira, doenças cardiovasculares, insuficiência renal e amputação dos membros inferiores. Dos 415 milhões de adultos diabéticos que existiam em 2015, cerca de 1/3 irá desenvolver alguma forma de retinopatia diabética que poderá conduzir à cegueira ou a incapacidade visual significativa. Por isso, o tema do Dia Mundial da Diabetes 2016 “Olhos na Diabetes” alerta para a necessidade de rastrear e diagnosticar precocemente a DM e as suas complicações a nível do olho, nomeadamente a retinopatia diabética. A retinopatia diabética resulta da lesão dos pequenos vasos da retina. No entanto, a maior parte dos casos de retinopatia diabética são evitáveis e os Médicos de Família têm um papel primordial nesta prevenção através de cinco estratégias: 1. Optimizar o controlo da glicemia, mas também da pressão arterial e dos lípidos. 2. Desenvolver planos individuais de tratamento que se adaptem às necessidades de cada pessoa e aos seus recursos disponíveis. Os hipotensores e os hipolipemiantes associados às alterações do estilo de vida podem atrasar a progressão da retinopatia diabética. 3. Uma boa compreensão da relação entre a alimentação, o exercício físico e os níveis de glicemia é fundamental para garantir a adesão do diabético às intervenções comportamentais e farmacológicas prescritas 4. Envolver a família e outros cuidadores da comunidade na vigilância e autocontrolo da DM 5. Garantir um exame oftalmológico regular (no mínimo a cada dois anos), designadamente através retinografia, e a referenciação atempada para tratamento das complicações detectadas. Face a uma doença com tão significativa importância e ao facto de em Novembro se celebrar o Dia da Diabetes, a Postgraduate Medicine achou por bem associar-se a esta efeméride dedicando o simpósio desta edição à Diabetes. São publicados 4 artigos de grande atualidade e interesse sobre o tema, merecendo um claro destaque aquele em que é feita uma atualização sobre os mais recentes padrões da ADA e que mostra o que foi alterado e tem importância específica para a Medicina Geral e Familiar. Aconselhamos também vivamente uma leitura das Normas da Direção-Geral de Saúde (DGS), designadamente a n.º 007/2011 de 31/01/2011 sobre o diagnóstico e conduta na Diabetes Gestacional. Permitimo-nos ainda acrescentar que, diferentemente do que é referido num dos artigos, a Norma da DGS diz que o diagnóstico da Diabetes Gestacional envolve duas fases temporais distintas: glicemia em jejum na primeira consulta de vigilância pré-natal e prova de tolerância à glicose oral (PTGO) às 24-28 semanas de gestação. E porque este é o último número deste ano, desejo aos nossos leitores e amigos um Santo Natal e um ano de 2017 pródigo em bênçãos do Deus Menino. |