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EditorialMaio-Junho 2023 | Volume 52 - Número 3
Saúde Cardiovascular
Teresa Ventura Através dos artigos incluídos nesta edição, sinalizamos o “Mês do Coração”, juntando-nos às atividades que se desenvolvem ao longo de todo o mês de maio, na tentativa de alertar a população (e os profissionais de saúde) para a problemática das doenças cardiovasculares e de mudar o seu paradigma. Sabemos que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte a nível global. Em Portugal o cenário é idêntico, verificando-se que um terço do total de óbitos são da responsabilidade deste grupo de doenças, o que representa mais óbitos do que os provocados por todos os cancros em conjunto. Sabemos, ainda, que a maioria das mortes por doença cardiovascular pode ser prevenida, se promovermos estilos de vida saudáveis e atuarmos sobre elementos determinantes de um maior risco global, como o são, circunscrevendo-nos aos tratados nesta edição, a hipertensão arterial, a diabetes mellitus, a doença polivascular ou a dislipidemia. Salientamos que atuar de forma preventiva é uma questão de eficiência e de eficácia. Em qualquer ciência não faz sentido tentar corrigir pontualmente um desequilíbrio, deixando tudo o que poderá continuar a provocar novos desequilíbrios exatamente como estava. Do mesmo modo, em Medicina não tem lógica limitarmo-nos a empregar terapêutica adequada em situações de enfarte agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral ou insuficiência cardíaca, por exemplo, e não intervirmos na correção dos fatores de risco que poderão continuar a desencadear novos eventos cardiovasculares e na deteção precoce das doenças já existentes, quando o tratamento é mais restaurador do nível de saúde prévio. Nesta edição de maio-junho, pelo papel central que os médicos de família (MF) têm na prevenção das doenças cardiovasculares, entre outras, não podemos deixar de referir o dia 19 de maio, dia do MF, uma iniciativa dinamizada pela WONCA – Organização Mundial dos Médicos de Família, desde 2010. Os MF resolvem cerca de 90% dos problemas de saúde que lhes são apresentados e aplicam, oportunisticamente, procedimentos preventivos com base na evidência científica. Num contexto de personalização e de continuidade de cuidados, cada contacto do MF com um paciente seu contribui para uma história evolutiva, que se desenha sobre as anteriores experiências partilhadas, o que coloca este médico em posição privilegiada para promover a saúde, incluindo a saúde cardiovascular. De modo geral, os fatores de risco cardiovasculares (hipertensão arterial, dislipidemia...) “não são sentidos “pelo paciente, podendo por isso ocorrer a tendência para serem por ele descurados. Os MF, ao obter uma compreensão partilhada com o paciente sobre a atenção que esses fatores de risco merecem e ao intervir sobre eles, estão a contribuir para prevenir a morbimortalidade cardiovascular. Os artigos do simpósio desta edição da Postgraduate Medicine, bem como as orientações clínicas sobre dislipidemia e os conselhos aos doentes sobre AVC também aqui publicados, representam um contributo na resposta ao desafio global de envolvimento de todos no combate às doenças cardiovasculares. Assim: – O artigo “Hipertensão ou não? Olhar para além das leituras feitas nas consultas” apresenta estratégias para se obter uma correta medição da pressão arterial, tanto no consultório como no domicílio da pessoa; – “Como utilizar a medicação para a DM2 para reduzir o risco CV” apresenta a evidência de que certos agentes antidiabéticos conferem benefícios cardiovasculares e melhoram a mortalidade por todas as causas; – “Diagnosticar e tratar a doença cardiovascular aterosclerótica na mulher: importância das estatinas” é um artigo importante, uma vez que as doenças cardiovasculares, incluindo as fatais, ocorrem em número superior nas mulheres, comparativamente ao universo masculino. A única forma de contrariar esta estatística é reconhecer as especificidades dos fatores de risco cardiovasculares clássicos na mulher, as condições clínicas exclusivas deste sexo associadas ao aumento do risco e, então, intervir em conformidade; – “Reduzir o risco trombótico da doença polivascular nos cuidados primários” evidencia a relevância da doença polivascular na elevação da incidência de eventos adversos cardiovasculares, assim como trata das intervenções precoces indicadas na redução desse risco; – Já as orientações clínicas sobre dislipidemia publicadas nesta edição passam em revista a evidência científica que suporta as recomendações no âmbito da prevenção primária e da prevenção secundária das doenças cardiovasculares; – Os “Conselhos aos Doentes”, que nesta edição focam o AVC, aumentam a literacia em saúde das pessoas, capacitando-as para tomar decisões acertadas face a essa situação, sendo de enfatizar a demora no recurso a um serviço de urgência. Adicionalmente, extrassimpósio, esta edição inclui dois artigos sobre problemas prevalentes na consulta de Medicina Geral e Familiar: a dor, bem como os desafios colocados no seu controlo; e o acne na pré-adolescência e adolescência. Esperamos que a leitura da presente edição da Postgraduate Medicine contribua, de modo aprazível, para a atualização de conhecimentos e para o robustecimento do raciocínio clínico de todos os seus leitores. |