EditorialJunho 2015 | Volume 43 — Número 6
Dia Mundial do Médico de Família
Edmundo Bragança de Sá O dia 19 de maio é o Dia Mundial do Médico de Família, declarado pela primeira vez em 2010 pela World Organization of Family Doctors (WONCA) como forma de salientar o papel e a contribuição dos Médicos de Família nos Sistemas de Saúde em todo o mundo. Como dizia a Professora Bárbara Starfield (falecida em 2011) “existem boas evidências, de uma grande variedade de estudos, que bons cuidados de saúde primários estão associados a melhores resultados, menores custos e maior equidade em saúde”. Nunca é demais salientar as características da disciplina de Medicina Geral e Familiar conforme definidas pela WONCA Europa em 2002: a) É o primeiro ponto de contacto médico com o sistema de saúde, proporcionando um acesso aberto e ilimitado aos seus utentes e lidando com todos os problemas de saúde, independentemente da idade, sexo, ou qualquer outra característica da pessoa em questão. b) Utiliza eficientemente os recursos da Saúde, coordenando a prestação de cuidados, trabalhando com outros profissionais no contexto dos cuidados primários e gerindo a interface com outras especialidades, assumindo o papel de provedor do utente sempre que necessário. c) Desenvolve uma abordagem centrada na pessoa, orientada para o indivíduo no contexto da sua família, comunidade e cultura, e respeitando sempre a sua autonomia. d) Tem um processo de Consulta singular em que se estabelece uma relação ao longo do tempo, através de uma comunicação médico--utente efetiva. e) É responsável pela prestação de cuidados continuados longitudinalmente consoante as necessidades do utente. f) Possui um processo de tomada de decisão determinado pela prevalência e incidência de doença na comunidade. g) Gere simultaneamente os problemas, tanto agudos como crónicos, dos indivíduos. h) Gere a doença que se apresenta de forma indiferenciada, numa fase precoce da sua história natural, e que pode necessitar de intervenção urgente. i) Promove a saúde e bem-estar através de intervenções tanto apropriadas como efetivas. j) Tem uma responsabilidade específica pela saúde da comunidade. k) Lida com os problemas de saúde em todas as suas dimensões física, psicológica, social, cultural e existencial. Os médicos de família devem responsabilizar-se pelo desenvolvimento e manutenção das suas aptidões, equilíbrio e valores pessoais, como base para a prestação segura e efetiva de cuidados de saúde aos utentes. Nesse sentido não posso deixar de referir o brilhante doutoramento do Dr. Bruno Heleno no dia 8 de junho em Copenhaga, na Dinamarca, perante um júri internacional do mais elevado nivel: Professor Peter Gøtzsche, do Departmento de Clinical Medicine,University of Copenhagen (Presidente); Professor Carl Heneghan, do Centre for Evidence-Based Medicine, Oxford – Inglaterra; e o Professor Signe Flottorp, do Norwegian Knowledge Centre for the Health Services, Oslo – Noruega. A sua tese de doutoramento foi sobre os malefícios associados aos rastreios de cancro. Um dos trabalhos mostrou que nos ensaios clínicos sobre rastreios oncológicos são descritos os potenciais benefícios, mas os malefícios raramente são avaliados. Outro dos trabalhos mostrou que a sensibilidade e a especificidade não são medidas válidas quando procuramos avaliar os testes de rastreios, devido ao sobrediagnóstico. Finalmente o Dr. Bruno Heleno demonstrou que os falso-positivos numa mamografia de rastreio levam a ansiedade, e que essa ansiedade não está restrita às mulheres que precisam de biópsia, mas que também afeta mulheres que apenas necessitam de mamografia clínica para excluir cancro. A Edição Portuguesa da Postgraduate Medicine felicita o Dr. Bruno Heleno pelo seu doutoramento e congratula-se por mais este enriquecimento da MGF em Portugal. |