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EditorialMarço-Abril 2023 | Volume 52 - Número 2
Saúde respiratória, política de antibióticos e dispareunia
Teresa Ventura As doenças respiratórias, que agrupam patologia de etiologia infeciosa e não infeciosa, de carácter agudo ou crónico, continuam a ser uma das principais causas de morbilidade e mortalidade a nível mundial e em Portugal. Entre as doenças respiratórias crónicas, as que mais se destacam são a doença pulmonar obstrutiva crónica (DPOC) e a asma, ambas objeto de tratamento em artigos que integram o simpósio da presente edição e em um outro, extrassimpósio, que foca o tratamento da asma na grávida. A DPOC tem uma expressão importante na morbilidade e na mortalidade por doença respiratória, enquanto a asma é uma doença comum, heterogénea, multifatorial, com formas de apresentação de gravidade muito variável, de doente para doente e no mesmo doente ao longo da vida. Quando a asma se apresenta descompensada durante a gravidez, poderá ter consequências gravosas para o feto. A DPOC e a asma são doenças crónicas com repercussões psicossociais, que ocasionam mudanças físicas, na realização das atividades da vida diária, nos aspetos sociais, familiares e profissionais, as quais podem ser permanentes ou intermitentes.(1) A DPOC é uma doença com evolução indeterminada e prognóstico variável – quando se mantém estável, o doente e a família sabem com o que contar e o que lhes é pedido, mas, se a evolução for progressiva, estão continuamente a adaptar-se às novas necessidades do doente, ou seja, estão sempre em fase de transição. Já a asma tem um carácter recorrente, o que exige grande flexibilidade por parte da família, pois tem de encontrar um modo de funcionar durante as crises e de voltar ao funcionamento anterior quando a crise acaba. Durante a gravidez, as crises de asma associam-se também, fundamentadamente, à ansiedade relacionada com o bem-estar fetal. Com os artigos atrás mencionados, indica-se o modo de conseguir um melhor controlo da DPOC e da asma, atenuando assim as suas repercussões biopsicossociais. O simpósio desta edição sobre doenças respiratórias integra também um artigo sobre pneumonia adquirida na comunidade (PAC) em crianças, cuja gravidade depende do agente responsável, da idade, do estado de saúde da criança antes do aparecimento da patologia e de uma terapêutica adequada. A pneumonia é apontada pela Organização Mundial de Saúde como a principal causa de mortalidade nas crianças em todo o mundo. Um diagnóstico precoce e um tratamento correto são a chave para o êxito na sua cura. Contudo, em estados iniciais da doença, a PAC não apresenta sintomas específicos que permitam um diagnóstico imediato, sendo os indícios que normalmente se observam comuns a muitas doenças do aparelho respiratório e de outros sistemas. O artigo mencionado sobre este tema indica modelos, como o Bilkis Simpler Prediction, úteis no diagnóstico atempado. Geralmente, a PAC é tratada sem necessidade de hospitalização da criança. No entanto, em casos de especial gravidade, tal poderá ocorrer, ampliando a desordem no funcionamento familiar, bem como a ansiedade e preocupação dos pais, apesar da família estar amparada na segurança tranquilizadora oferecida pela equipa de saúde hospitalar. Outro artigo do simpósio versa o uso de antibióticos em situações geralmente benignas, as infeções das vias aéreas superiores. Esse uso é, frequentemente, excessivo ou inadequado, contribuindo, entre outros, para o desenvolvimento de resistência aos antibióticos. Este artigo, assim como um outro extrassimpósio, “Ciclos de antibióticos para infeções frequentes: recomendações do American College of Physicians”, caracterizam as situações em que o uso de antibióticos está, ou não, indicado e orientam a sua seleção e a duração do respetivo tratamento. Sabemos que um “bom” antibiótico de hoje será um “mau” antibiótico de amanhã, se for usado indiscriminadamente, podendo nós correr o risco de deixarmos de ter fármacos eficazes para as infeções bacterianas. Assim, com estes dois artigos, esperamos contribuir para a política de antibióticos, entendida como um conjunto de estratégias que visam organizar o tratamento antimicrobiano. Extrassimpósio, esta edição inclui também um artigo sobre dispareunia, um problema que pode empobrecer a qualidade de vida, levar a sentimentos de inadequação, causar ansiedade e perturbar a relação com o parceiro. O artigo ensina quais são as perguntas adequadas a formular para caracterizar adequadamente o quadro clínico e apresenta as opções terapêuticas baseadas na evidência científica. Desejo que a leitura desta edição da revista traga ganhos em saúde aos doentes dos seus leitores. Referência bibliográfica 1. Miyazaki COMS, Domingos NAM, Valério NI, Souza EF, Silva RCMA. (2005). Tratamento da hepatite C: sintomas psicológicos e estratégias de enfrentamento. Revista Brasileira de Ter Cognitiva 2005; 1(1): 119-28. |