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EditorialNovembro-Dezembro 2022 | Volume 51 - Número 6
É fulcral promover e defender a saúde da pessoa com Diabetes mellitus
José Mendes Nunes O ano de 2022 marca o 100.º aniversário do uso, pela primeira vez, da insulina humana. Este marco histórico revolucionou o tratamento da Diabetes mellitus. Mudámos da resignação de morrer, inexoravelmente, da diabetes para aprendermos a viver com ela. Desde então, introduziram-se no mercado muitos outros medicamentos para o tratamento da diabetes, mas o alargamento dos critérios de diagnóstico e os estilos de vida fizeram aumentar, em muito, a prevalência da diabetes. Calcula-se que em Portugal 1 em cada 10 pessoas é diabética, o que faz da diabetes um dos problemas mais frequentes no dia-a-dia da prática do médico de família (MF). Porque apesar do enorme arsenal terapêutico de que hoje dispomos, a melhor maneira de controlar a diabetes é evitá-la, publicamos um artigo que recorda as normas da American Diabetes Association (ADA) para a sua prevenção. Quando a doença já está instalada a primeira abordagem deve ser a implementação de medidas higieno-dietéticas conforme salienta o artigo “Prevenção e tratamento da DM2 com dieta hipolipídica baseada em vegetais e alimentos integrais”. Mas, para nosso desgosto, e mais do dos pacientes, apesar de todos os cuidados, a DM2 tem múltiplas complicações das quais a nefropatia diabética é a segunda mais frequente. Esta exige tomadas de decisão atempadas que são revistas no artigo “Pontos de decisão no tratamento de doentes com nefropatia diabética”. A atividade física, destacada neste número (Medicina e estilo de vida: atividade física), é fundamental para a prevenção e controlo da Diabetes mellitus, mas é igualmente importante para muitos outros problemas de saúde revelando-se verdadeiramente como a panaceia universal. O MF deve procurar tornar-se desnecessário para os seus doentes e, para isso, procurar dar-lhe instrumentos para o seu empoderamento esclarecido, ou, como também se diz, para a sua ativação. Com este objetivo, o MF tudo faz para o libertar da sua doença (e dos serviços de saúde) para que possa dedicar o mínimo de esforço e tempo necessários para a controlar, e não mais do que isso, preservando ao máximo o seu lado saudável da vida, i.e., procurando praticar uma “medicina minimamente disruptiva”. É com este objetivo que o artigo “Telemedicina nos Cuidados da Diabetes” assume particular importância. A telemedicina permite que com o menor esforço e custo obter melhores resultados em saúde e mais satisfação dos doentes. A pessoa com diabetes, apesar da sua doença, mesmo que com comorbilidades, tem muito mais de saudável que importa valorizar e defender. Há que preservar o seu lado saudável e ampliá-lo fazendo com que a sua doença não contamine, desnecessariamente, a totalidade das vertentes da sua vida. Contudo, não podemos esquecer que a telemedicina não substitui a construção de uma relação médico-doente e apenas a prolonga para além dos momentos de cuidados presenciais. |