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EditorialMarço-Abril 2020 | Volume 49 — Número 2
Em tempos de crise, cuidar da Saúde emocional desenvolve a nossa humanidade
Maria Palha* O impacto emocional de uma situação de crise, como a que vivemos neste momento com a pandemia do Covid-19, depende da vivência pessoal de cada um e impacta nas diversas dimensões das nossas vidas: social, emocional, profissional, espiritual. E por isso, quando se fala de saúde emocional num momento destes, não há um paracetamol que acabe com todos os males, mas há uma serie de técnicas de autocuidados que, como agentes de saúde pública, nos ajudam a cuidar da saúde emocional como fazemos com a saúde física. As emoções têm uma função adaptativa e, como tal, trazem mensagens que nos ajudam sobreviver. A intensidade emocional faz parte de um conjunto de reações normais nesta fase da situação de crise em que vivemos. Sabendo como lidar com isto, não temos um agravamento de sintomas nem precisamos de ajuda especializada, mas se ignorarmos, podemos agravar a situação e adoecer emocionalmente. O medo, ansiedade e preocupação, são difíceis, sem dúvida, mas significam que estamos perante uma ameaça de vida. De perigo. São o pontapé de saída para a nossa salvação. Neste caso, é o medo que nos impulsiona a recolher o máximo de informação necessária à sobrevivência, medidas de proteção, informação de sintomatologia e sistema de referência em caso de doença. A zanga e agressividade são emoções de ação, de energia. E neste caso significam que temos que “dar um murro na mesa” a padrões antigos, não às pessoas que estão ao nosso lado. É a zanga que nos permite implementar mudanças. E, neste caso, pode dar-nos energia que precisamos para introduzir novos hábitos na condição em que nos encontramos. Frequentemente nestes casos a zanga é mal usada, é dirigida ao outro, e por isso há muitos conflitos (as pessoas focam-se na forma diferente que cada um vive a situação e não no que tem em comum). Não é o momento de tomada de decisões definitivas, de quebrar laços com pessoas que nos eram tão importantes antes desta situação. Por isso, em caso de zanga ou irritação, a sugestão é introduzir paciência e compaixão nas relações com os outros. No Kit de saúde emocional, que criei com crianças de 13 países, o livro “Emocionar – kit saúde emocional para famílias” (Editora Penguin, outubro 2019) numa das dicas que sugerimos para aumentar a paciência era respirar fundo e repetir para si mesmo “eu sou forte para esperar por...” e ao nível da compaixão repetir para si mesmo “Tal como eu, esta pessoa está a tentar assimilar todas estas mudanças e lidar com esta situação”. Olhemos para a Tristeza, esta significa que perdemos alguém, uma coisa, uma situação ou um objeto que era importante para nós. A tristeza surge com uma missão muito clara, ajuda-nos a identificar o que de facto é importante para nós e isto redefine valores. Às vezes, por falta de tempo, agimos em piloto automático sem refletir sobre a razão que estamos aqui, o sentido da nossa vida. E a tristeza é um virar do avesso, e ver que o avesso é o lado certo das coisas. A tristeza aproxima-nos do sentido de propósito. Posso partilhar que nas entrevistas às crianças, para a criação do Kit saúde emocional para famílias, a maioria das crianças conseguia responder à pergunta “Por que razão estamos aqui? Para cuidar dos outros, para fazermos bem?” Em que momento se tornou tão difícil para nós dar uma resposta e refletir sobre a nossa essência e o nosso sentido de vida? O agente de saúde pública conhece as medidas de autocuidados que pode implementar neste momento, sabe quando procurar e onde encontrar ajuda especializada. Aqui ficam alguns sintomas que, caso não sejam passageiros, podem beneficiar de ajuda especializada: – Insónias e estado de ansiedade intenso; Incapacidade para manter uma rotina; Dificuldade em cuidar de si (alimentar-se, higiene, etc.); Isolamento ou conflitos exacerbados; Pensamentos desesperançados e generalistas; Aumento do consumo de álcool, tabaco e/ou drogas; Automedicação; queixas físicas, sem causas físicas! Por um bem-estar comum criemos o nosso próprio kit de saúde emocional para vencermos com toda a integridade a batalha da pandemia do Covid-19. *Psicóloga clínica e fundadora da www.behuman.org.pt |