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EditorialMarço-Abril 2017 | Volume 46 — Número 2
Vamos falar de depressão
Edmundo Bragança de Sá O Dia Mundial da Saúde, comemorado todos os anos no dia 7 de Abril para assinalar o aniversário da fundação da Organização Mundial da Saúde (OMS), tem este ano como tema “ Vamos falar de Depressão “. A depressão caracteriza-se por tristeza persistente, perda de interesse em actividades que habitualmente dão prazer e incapacidade para realizar as Actividades de Vida Diária, durante pelo menos duas semanas. Para além disso, vários outros sintomas podem estar presentes, designadamente adinamia, alteração do apetite, perturbação do sono, baixa auto-estima, sentimentos de culpa e ideação suicida. O estigma que a rodeia constitui frequentemente uma barreira para que muitas pessoas deprimidas não procurem ajuda e suportem sozinho o sofrimento e os sintomas acompanhantes. Por isso, falar de depressão na família, nos grupos de amigos, na escola, no local de trabalho, nos centros comunitários ou nos órgãos de comunicação social pode ajudar a quebrar este estigma e levar a que mais pessoas procurem ajuda. Os próprios médicos, e em particular os Médicos de Família, devem estar atentos a sentimentos de estigmatização que, de alguma forma, os leve a subvalorizar os sintomas da depressão. De acordo com a OMS, no ano 2015, houve 322 milhões de pessoas que sofriam de depressão e o suicídio foi a segunda principal causa de morte em pessoas entre os 15 e os 29 anos. Em 10 anos (2005-2015) a prevalência da doença cresceu 18,4%, o que pode ser parcialmente atribuído ao envelhecimento da população, uma vez que a depressão é mais frequente entre as pessoas mais velhas. A depressão atinge mais as mulheres (4,4%) do que os homens (3,6%). O risco de depressão aumenta com a pobreza, o desemprego, abuso de álcool ou drogas, acontecimentos da vida, como uma separação, divórcio ou morte de alguém próximo, presença simultânea de outras doenças (como assinalado no simpósio deste mês sobre a Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica) ou ainda a gravidez e o parto. As repercussões da depressão no próprio e na família podem ser devastadoras e a intervenção do Médico de Família para limitar essas repercussões pode ser decisiva. Foi precisamente nesta área que no passado dia 1 de Março a Drª Teresa Ventura defendeu a sua tese de doutoramento na Nova Medical School com distinção e louvor atribuído por unanimidade por um Júri de excelência que presidiu à prova. O título da tese foi “Doença Crónica: Intervenção do Médico de Família para Limitar as suas Repercussões na Pessoa e na Família” tendo sido identificadas e caracterizadas 19 repercussões possíveis da doença crónica, 26 factores condicionantes da adaptação à doença crónica e 15 tipologias de intervenção médica para promover uma adaptação funcional à situação da doença. A MGF está uma vez mais de parabéns e a Postgraduate Medicine associa-se ao regozijo que todos os Médicos de Família sentem por mais este contributo no ensino e prática da MGF e em particular na prestação de cuidados antecipatórios à pessoa doente e à família. |