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EditorialJulho-Agosto 2016 | Volume 45 — Número 4
A Pediatria – em constante crescimento e evolução
Inês Romão Luz* A Pediatria, como outras áreas da Medicina, tem acompanhado a evolução da ciência permitindo-lhe autonomizar-se das restantes especialidades e adotar terapias inovadoras, que proporcionam melhor qualidade de vida aos seus doentes. A difusão de experiências e conhecimento tem permitido a criação de normas de orientação, indispensáveis tanto aos pediatras como aos médicos de Medicina Geral e Familiar, que têm um contato privilegiado com a criança e com o adolescente, integrados na sua família e comunidade. Nesta edição são focados vários temas, desde os classicamente associados à Pediatria, como as cólicas do lactente, o refluxo gastro-esofágico, os hábitos de sono e os que se associavam apenas à idade adulta como a hipertensão arterial. As cólicas do lactente têm “atormentado” gerações e gerações de pais, levando ao desenvolvimento de várias opções terapêuticas. Mas, apesar de existirem critérios de diagnóstico bem definidos, a realidade é que muito pouco se sabe sobre a sua fisiopatologia.1 No artigo dedicado a este tema destaca-se a importância do diagnóstico diferencial, de forma a excluir problemas que necessitem de uma rápida intervenção. Também é abordada a utilização de probióticos, campo em expansão em várias áreas da Medicina, em que determinadas estirpes terão um papel em patologias específicas, existindo contudo pouca evidência científica da sua efetividade. A última edição do Journal of Pediatric Gastroenterology and Nutrition traz um suplemento inteiramente dedicado ao uso de probióticos em idade pediátrica, onde reforça a sua indicação na gastroenterite aguda e na enterocolite necrotizante no recém-nascido prétermo.2 O sono em idade pediátrica é um tema que está intimamente ligado ao das cólicas, sendo que foram recentemente publicadas novas recomendações no Journal of Clinical Sleep Medicine que, no entanto, não fazem menção ao número de horas a dormir abaixo dos 4 meses de idade já que há muita variabilidade e falta de evidência quanto à sua relação com outcomes saudáveis.3 O refluxo gastro-esofágico exige saber diagnosticar e orientar corretamente, de modo a evitar terapêuticas ineficazes e com potenciais efeitos secundários. O artigo apresenta tabelas de fácil consulta sobre diagnóstico diferencial e tratamento. No artigo sobre hipertensão arterial em idade pediátrica é dado um especial enfoque à terapêutica. O Programa Nacional de Saúde Infantil e Juvenil preconiza a medição da pressão arterial em todas as crianças a partir dos três anos e em idades mais precoces nos grupos de risco, disponibilizando tabelas de percentis bem como os critérios de classificação. Os médicos de Medicina Geral e Familiar têm a vantagem de já estarem familiarizados com esta doença e com o seu tratamento nos adultos, devendo assegurar um estudo etiológico e a orientação pela Nefrologia Pediátrica. Doenças que não eram associadas à idade pediátrica são hoje reconhecidas neste grupo, sendo imprescindível a prevenção primária e secundária, pelo que os clínicos devem desenvolver campanhas de promoção da saúde a nível local, como já aconteceu com as ações promovidas pela secção de Nefrologia Pediátrica nos Dias Mundiais do Rim e da Hipertensão. No sentido oposto temos as doenças que eram bem conhecidas dos pediatras e que raramente chegavam à medicina do adulto, como as doenças hereditárias do metabolismo e a fibrose quística. Torna-se premente apostar na formação pré e pós-graduada sobre estas doenças, já que os seus doentes dispõem hoje de mais opções terapêuticas que lhes permitem uma maior esperança média de vida. Estes doentes irão necessitar de um apoio especializado, que não poderá ser prestado ad aeternum pela Pediatria. É fundamental a realização de consultas em conjunto com as especialidades de adultos a partir dos 16 anos, de forma a garantir a excelência dos cuidados médicos, pois as crianças de hoje serão os adultos de amanhã. Retomando o tema do sono, é sempre importante alertar para os malefícios do uso do telemóvel durante a noite! No entanto, os gadgets também podem ser nossos aliados no rastreio e monitorização de certas patologias. Falo por exemplo do CRADLE®, aplicação para smartphones, que permite a pesquisa de leucocória e do novo sistema de monitorização da glicémia intersticial que obvia as constantes picadas e cujos dados podem ser transferidos para o computador, facilitando assim o controlo da diabetes. Também as redes sociais têm um papel importante! São uma plataforma em que as campanhas de prevenção devem ganhar terreno e que permitem também a intensificação das relações em grupos de pais e doentes, com a troca de informação entre si, e sempre que possível com os clínicos, que devem funcionar como moderadores e fontes de informação fidedigna. Merece destaque a recente abertura da primeira Unidade de Cuidados Continuados e Paliativos Pediátricos em Portugal, bem como as várias ações de formação, desenvolvidas pela Associação Portuguesa de Cuidados Paliativos, com enfoque na idade pediátrica. Desta forma iremos conseguir reverter a classificação de Portugal como o país da Europa ocidental menos desenvolvido nesta matéria, segundo a Organização Mundial de Saúde.4 Em Pediatria todos os dias se conhecem avanços no campo técnico-científico e tecnológico, que se revestem da maior importância, mas não se deve esquecer nunca a abordagem holística, reiterando o afeto como elemento fundamental para o desenvolvimento do ser humano em toda a sua grandeza e complexidade! Referências bibliográficas 1. Szajewska H, Dryl R. Probiotics for the Management of Infantile Colic. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2016 Jul;63(1S Suppl 1):S22-S24. 2. Guarino A, Canani RB. Probiotics in Childhood Diseases: From Basic Science to Guidelines in 20 Years of Research and Development. J Pediatr Gastroenterol Nutr. 2016 Jul;63(1S Suppl 1):S1-S2. 3. Paruthi S, Brooks LJ, D'Ambrosio C, Hall W, Kotagal S, Lloyd RM, Malow B, Maski K, Nichols C, Quan SF, Rosen CL, Troester MM, Wise MS. Recommended Amount of Sleep for Pediatric Populations: A Statement of the American Academy of Sleep Medicine. J Clin Sleep Med. 2016 May 25. 4. https://www.sns.gov.pt/wp-content/uploads/2016/05/Sa%C3%BAde-Materna-da-Crian%C3%A7a-e-do-Adolescente. *Interna da Formação Específica em Pediatria, Hospital Pediátrico de Coimbra, CHUC, EPE |