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Editorial

Maio-Junho 2019 | Volume 48 — Número 3

A Medicina de Proximidade

Rita Jácome Correia Viana*

O Dia Mundial do Médico de Família (MF), 19 de maio, é promovido pela Organização Mundial de Médicos de Família desde 2010. Este ano, o tema para a comemoração é “a proximidade”, pretendendo-se dar a conhecer o papel de proximidade do MF na prestação de cuidados de saúde à população.

É realmente na proximidade aos utentes que a Medicina Geral e Familiar (MGF) encontra um papel de destaque em relação às outras especialidades. A MGF é transdisciplinar, compromete-se com a pessoa e com um conjunto de conhecimentos, de doenças e de técnicas específicas, estabelece conexões entre diversas disciplinas, faz uma integração de conhecimentos, articulando elementos que passam além da vertente orgânica. Observa cada utente como um sistema, constituído por várias partes, integrado numa família e respetiva comunidade, numa tentativa de compreensão da complexidade dos utentes e das suas doenças e vivências, o que do ponto de vista humano destaca a atitude empática envolvida.

O Médico de Família é o primeiro ponto de contato do utente com o Serviço Nacional de Saúde, prestando cuidados de proximidade e promovendo o diagnóstico de problemas agudos, crónicos, deteção e diagnóstico precoce, organização de cuidados preventivos, psicoterapia, educação sanitária e estilos de vida, seja nos centros de saúde, nas urgências/unidades básicas de urgências, domicílios, nos cuidados continuados, paliativos e noutros. Proporciona cuidados globais e abrangentes, com uma visão holística e integrativa, que permite a criação de uma relação duradoura e de confiança, essencial no sucesso terapêutico.

O MF presta cuidados longitudinais, que englobam crianças, adolescentes, grávidas, adultos e idosos. Tem a responsabilidade de atuar desde cedo nas camadas mais jovens, contribuindo para a criação de “Gerações saudáveis”, como proposto no Relatório do Conselho Nacional de Saúde de 2018. Para além disso, tem a capacidade de acompanhar o envelhecimento da população. De fato, o envelhecimento mundial é uma tendência crescente e, segundo a Organização das Nações Unidas, irreversível. Em 2050, os idosos serão 20% da população, segundo as projeções. Acompanhando este crescimento, aumentará a polipatologia, a polimedicação e a complexidade dos utentes que se apresentam nos Cuidados de Saúde Primários, sendo o MF importante na integração e gestão da informação e acompanhamento destes utentes.

O MF depara-se com múltiplos desafios. O Dr. Vítor Ramos et al no artigo “Desafios da complexidade da MGF”, destaca os seguintes: a multimorbilidade; os desafios da mudança comportamental para prevenção de doenças e promoção da saúde; os fatores associados à adesão terapêutica; o efeito placebo; a trama de fatores biológicos, psicológicos, relacionais, familiares, sociais, laborais, económicos e culturais que modelam o sofrimento, os modos de adoecer e a procura de cuidados de saúde dos diferentes pacientes; o papel da autonomia e do empowerment das pessoas e da comunidade e as dificuldades para lidar com as questões tecnológicas, dos serviços e dos sistemas de saúde. Eu acrescentaria: o desafio de ser uma especialidade que atende a um vasto número de problemas agudos e crónicos, que faz com que o MF tenha de dominar várias disciplinas; o reduzido tempo de consultas para dar resposta à complexidade de cuidados que deverão ser prestados; conhecer e estudar uma nova lista de utentes, tendo em conta as suas particularidades, grupos de risco e vulneráveis e saber adequar os cuidados e o horário aos mesmos; o isolamento de alguns colegas, em unidades, sem apoio e o desafio da lentificação das tecnologias e do excesso de burocracia.

É essencial que os restantes profissionais de saúde e a comunidade compreenda e valorize o contributo dos MF para o Sistema Nacional de Saúde, tantas vezes subestimado. É necessário garantir as condições necessárias para a sua atividade, desde recursos humanos, infraestruturas, formação profissional e o reajustamento das listas de utentes. A Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar defende o redimensionamento da lista de utentes do MF para o exercício correto da MGF, sendo insuficiente uma lista ser determinada apenas pelo número de pessoas. Esta deve ter uma dimensão padrão de Unidades Ponderadas e Ajustadas, que corresponde a um diferente número de utentes, consoante a complexidade do contexto social onde se trabalha e a caracterização dos diferentes locais e contextos de exercício clínico.

O meu desejo no presente e para o futuro é a proximidade e espírito de interajuda entre os cuidados de saúde primários e secundários, de modo a garantir a acessibilidade, a qualidade e equidade de cuidados aos utentes, preocupando-me tal como preocupa ao Dr. João Lobo Antunes “que a medicina, empolgada pela ciência, seduzida pela tecnologia e atordoada pela burocracia, apague a sua face humana e ignore a individualidade única de cada pessoa que sofre, pois embora se inventem cada vez mais modelos de tratar, não se descobriu ainda o modo de aliviar o sofrimento sem empatia ou compaixão.”

Termino citando uma frase do artigo “Medicina Geral e Familiar: Desafios Hoje e no Futuro”, do Dr. José Silva Henriques e da Dra. Denise Alexandra: “A sociedade quer um especialista que resolva problemas de saúde de forma integrada, com qualidade, proximidade e melhor relação custo-efetividade. Esse especialista é o Médico de Família.”

*Unidade de Saúde da Ilha de São Miguel – Açores
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