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EditorialNovembro-Dezembro 2023 | Volume 52 - Número 6
Diabetes Mellitus: um problema de saúde pública
Teresa Ventura O simpósio da presente edição da Postgraduate Medicine, bem como as orientações clínicas publicadas extrassimpósio, versam temas relacionados com a Diabetes Mellitus (DM), que constitui um preocupante problema de saúde, quer a nível nacional, quer a nível mundial. Em 2019, Portugal tinha 9,8% de adultos com DM na faixa etária dos 20 aos 79 anos, surgindo atrás da Alemanha (10,4%), o pior país da União Europeia em termos de epidemiologia deste problema de saúde.(1) A média da União Europeia era 6,2%, com a Irlanda (3,2%), a Lituânia (3,8%) e a Estónia (4,2%) a registarem as taxas mais baixas de prevalência de DM na população adulta.(1) Numa comparação mais ampla, a nível dos países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), Portugal ocupava o quinto lugar na lista dos países com maior prevalência de DM, estando em lugares piores o México (13,5%), a Turquia (11,1%), os Estados Unidos (10,8%) e a Alemanha (10,4%).(1) Não obstante estes números, a DM é prevenível. A DM tipo 2 (cerca de 90% dos casos de DM), sobretudo no início da doença, tem como mecanismo fisiopatológico a insulinorresistência, que por sua vez está associada a fatores de risco modificáveis, ligados aos estilos de vida. Assim, a população em geral beneficia em aprender sobre este problema de saúde e em entender a maneira como a dieta e a atividade física afetam a glicemia. Mostrando que a informação não chega, um inquérito realizado pela Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP) mostrou que 77% dos inquiridos afirmam saber quais os fatores de risco para DM tipo 2 e 93% referem o excesso de peso e a obesidade como o mais relevante, seguido do sedentarismo (81%) e da hereditariedade (66%).(2) Em contraponto, indiciando barreiras à mudança de estilos de vida de natureza diversa, o relatório da OCDE de 2021, apesar de referir uma trajetória positiva dos portugueses na redução de tabaco, álcool e bebidas açucaradas, sinaliza que o consumo de bebidas açucaradas mantém valores superiores à média dos países analisados e que Portugal é o país da União Europeia com pior resultado no que respeita à atividade física – 46,4% da população apresenta atividade física insuficiente.(3) As intervenções médicas e/ou de outros profissionais de saúde poderão constituir estímulos que provocam o processo de tomada de decisão de mudança nos estilos de vida, quer em ações de saúde pública, contribuindo para a criação de ambientes na comunidade que facilitem e promovam comportamentos saudáveis, quer em intervenções clínicas centradas na pessoa. Estas últimas intervenções, personalizadas, correspondem a uma necessidade sentida por parte das pessoas, como mostra o inquérito da APDP atrás mencionado, ao reportar que partes dos inquiridos considera importante contar com acompanhamento especializado para controlo de peso e que este deveria ser, preferencialmente, apenas com consultas presenciais (51%), ou alternativamente, com consultas presenciais alternadas com teleconsultas por videoconferência (28%).(2) De caráter crónico, a DM, sobretudo se não estiver compensada, provoca a médio e longo prazo consequências graves em múltiplos sistemas orgânicos. As consultas a pessoas com DM constituem uma boa parte das consultas realizadas pelos médicos de família, devido às vulnerabilidades inerentes a nível físico, emocional e social. Estas consultas são oportunidades para se conseguir mudar estilos de vida e, se necessário, ajustar terapêuticas farmacológicas, visando obter uma melhor compensação da DM, bem como rastrear e tratar complicações, de modo a evitar repercussões em cascata. Com os artigos que publicamos nesta edição, esperamos reforçar o referencial teórico dos seus leitores na área da DM, apoiando-os na prossecução dos objetivos mencionados, com implicações na longevidade e na qualidade de vida das pessoas com DM e suas famílias. Referências bibliográficas 1. PORDATA (2022). Estatísticas Sobre Portugal e Europa. Disponível em https://www.pordata.pt/Home 2. Associação Protetora dos Diabéticos de Portugal (APDP). Estudo Percecional sobre Diabetes. Disponível em: https://apdp.pt/mais-de-80-dos-portugueses-sabem-como-prevenir-a-diabetes-tipo-2-estudo/ 3. OCDE, Observatório Europeu dos Sistemas e Políticas de Saúde. Portugal: Perfil de Saúde do País 2021. In: Estado da Saúde na UE: OCDE. Bruxelas: OESPS; 2021. |