EditorialJaneiro 2015 | Volume 43 — Número 1
Votos para o novo ano
Edmundo Bragança de Sá É normal que no início de cada novo ano sejam formulados os habituais votos de felicidade, saúde, amor, alegria… As Nações Unidas (ONU) proclamaram o ano 2015 como o Ano Internacional da Luz como forma de sensibilizar para a importância das tecnologias óticas na promoção de um desenvolvimento sustentável e na procura de soluções para os desafios mundiais nas áreas da energia, educação, agricultura, comunicações e saúde. No entanto, o início de 2015 tem sido marcado por notícias que em vez de “luz” parece que mais sombras existem sobre a humanidade. Fiquei especialmente chocado quando no dia 10 de janeiro soube da notícia que uma menina de 10 anos tinha sido utilizada como portadora de uma bomba possivelmente detonada à distância provocando 2 dezenas de mortos num mercado na Nigéria. Toma assim especial relevância a mensagem do Papa Francisco no primeiro dia deste ano a propósito do Dia Mundial da Paz. Nesta mensagem, o Papa Francisco denuncia o “fenómeno abominável” da escravatura e do tráfico de pessoas, apelando ao compromisso de governos, empresas, religiões e sociedade civil. Parece quase um paradoxo que, em pleno século XXI, estejamos a falar de escravatura, algo que pensávamos estar abolido há algumas décadas. No entanto, como diz o Papa Francisco, há “ainda hoje milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – que são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura”. E prosseguiu, enunciando as múltiplas faces da escravatura na sociedade atual: • Trabalhadores e trabalhadoras, incluindo menores, escravizados nos mais diversos setores. • Imigrantes remetidos para a clandestinidade ou para “condições indignas” de vida e trabalho. • Redes de prostituição, casamentos forçados, tráfico e comercialização de órgãos, crianças-soldados, e formas disfarçadas de adoção internacional. • Jovens e crianças que são raptadas e mantidas em cativeiro por grupos terroristas, servindo como “combatentes” ou como “escravas sexuais”. As causas da escravatura hoje são as mesmas de ontem: “uma conceção da pessoa humana que admite a possibilidade de ela ser tratada como um objeto”. Nesta mensagem de ano novo o Papa Francisco não se limita a fazer as denúncias, mas propõe, desde logo, algumas estratégias para alcançar a erradicação da escravatura até ao ano 2020: • Tal como as organizações criminosas usam redes globais para alcançar os seus objetivos, assim também a ação para vencer este fenómeno requer um compromisso comum e igualmente global por parte dos diferentes atores que compõem a sociedade na prevenção, proteção das vítimas e na ação judicial contra os responsáveis pelas formas de escravatura e tráfico humanos. • As empresas devem garantir aos seus empregados condições de trabalho dignas e salários adequados e vigiar para que não tenham lugar, nas cadeias de distribuição, formas de servidão ou tráfico de pessoas humanas. Neste esforço global para combater a escravidão contemporânea ninguém pode ficar de fora e tornar-se cúmplices deste flagelo. Os profissionais de saúde e os médicos em particular têm um papel fundamental nesta luta não só na identificação das situações de risco mas também na sua denúncia e não consentindo com as desigualdades no acesso aos serviços de saúde ou aos medicamentos. Também a Organização Mundial de Saúde tem feito esta recomendação em vários documentos (Por exemplo: “Employment Conditions Knowledge Network (EMCONET). Final Report, 20 September 2007”; “Public health risk assessment and interventions-Conflict and humanitarian crisis in Central African Republic, 20 December 2013”; “Preventing intimate partner and sexual violence against women: taking action and generating evidence. http://whqlibdoc.who.int/publications/2010/9789241564007_eng.pdf “ Então para além dos habituais votos formulados no início de cada ano, desejamos que 2015 seja um Ano de Luz para toda a humanidade e que a tecnologia ótica contribua também para o fim de todas as formas de escravatura e para o bem-estar de todos. |