EditorialO Dia Mundial da Diabetes – pensar global, agir local.
Isabel Ramôa* A diabetes apresenta-se no século XXI com um impacto que foi já comparado a um tsunami. A urbanização, a globalização, as alterações demográficas e as mutações sociopolíticas com novos modelos económicos, criaram uma paisagem mundial no seio da qual a diabetes cresce visivelmente. Segundo a Federação Internacional da Diabetes (IDF), o número de diabéticos está a aumentar em todo o mundo, atingindo em 2013 os 382 milhões. A maior parte tem entre 40 e 59 anos e 80% vivem em países de baixo e médio rendimento. Em Portugal estima-se que cerca de 1 milhão de indivíduos entre os 20 e os 79 anos estará afetado pela diabetes, ou seja, 12,7% da população, dos quais 5,5% não estão diagnosticados. A incidência da diabetes aumentou 80% nos últimos 10 anos. Há ainda um grupo de 2 milhões de pessoas que apresentam pré-diabetes, com risco acrescido de diabetes e de doenças cardiovasculares. O Programa Nacional da Diabetes visa a redução da incidência e da morbimortalidade desta doença. A inclusão da «Ficha de avaliação de risco de Diabetes tipo 2» no sistema de informação e registo dos cuidados primários, facilita a aplicação progressiva e generalizada na deteção de quem está em risco. As normas de orientação clínica e novos modelos organizativos poderão ser um contributo para o melhor e atempado tratamento das pessoas com diabetes. Os dados do Observatório Nacional da Diabetes, ao revelarem áreas mais problemáticas e as assimetrias do país, levam a priorizar as ações a desenvolver. É um bom exemplo a preocupação crescente nos hospitais relativamente à melhoria do controlo dos doentes diabéticos internados que revelam maior mortalidade hospitalar e tem maior demora média. No Alentejo é ainda muito preocupante o número de internamentos por complicações da diabetes e o número de amputações. As várias estruturas de saúde existentes na região, onde se desenvolvem diariamente cuidados aos diabéticos, podem potenciar os seus bons resultados através de modelos organizativos de redes de cuidados integrados, por forma a responderem adequadamente em cada momento do percurso da vida do diabético. O Dia Mundial da Diabetes, em 14 de novembro, foi comemorado por todo mundo sob o lema da IDF «Protejamos o nosso futuro», tendo também sido lançada a campanha «Dar um passo pela diabetes» que incluiu várias iniciativas, como iluminar de azul um monumento ou organizar sessão de sensibilização para a diabetes, suas complicações, e para a não descriminação. Em Portugal, para além de várias iniciativas pelo país, mais uma vez se realizou o Fórum Nacional da Diabetes, ocorrido este ano em Alcochete, que reuniu profissionais, doentes e cuidadores. Entre outros temas foi discutido o papel das autarquias na luta contra a diabetes. Na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo, um grupo de profissionais que desenvolve um plano de gestão integrada da diabetes com a colaboração crescente de todos os envolvidos nos cuidados aos diabéticos, organizou este ano as comemorações na sua área de influência. Assim, com o tema «A arte e a diabetes», lançou o desafio a diabéticos de 14 centros de saúde para pintarem numa tela as sua emoções, através de cores e formas – que depois foram patentes numa exposição – e que foram mote para partilha de dificuldades, expectativas e desejos. Ocorreram várias ações pelos diferentes concelhos na promoção de estilos de vida saudáveis, que culminaram num evento alargado, no dia 14, com a participação do diretor do PND, Dr. José Manuel Boavida, que traçou o panorama da diabetes na atualidade e o estado de arte da sua abordagem. Apresentaram-se projetos de intervenção comunitária e houve ainda um mass training adaptado à população, momento alto de atividade física com a ajuda de técnicos de desporto. Portugal, com o seu clima e a sua dieta mediterrânica, teria boas condições para resistir à Diabetes tipo 2 tão dependente dos estilos de vida. Mas a tendência ao comportamento em conformidade com o grupo social, a suscetibilidade à publicidade e ao consumo, e o ritmo de crescimento urbano com profundas desigualdades sociais, coloca desafios a nível da comunidade onde é necessária uma verdadeira educação para a saúde. A fase da construção das infraestruturas tem agora de ser substituída pelo investimento no capital social. O envolvimento de escolas e organismos autárquicos é potenciador de medidas de prevenção, ao contribuir para a melhoria da literacia em saúde e promoção de estilos de vida saudáveis. «Proteger o nosso futuro» significa construir o presente com as mudanças que inviabilizem as projeções que se imaginam para a diabetes. Assim o consigamos, «unidos pela diabetes»! *Responsável pelo Grupo de Gestão Integrada da Diabetes na ULSBA. Coordenadora Regional para o PND no Alentejo |