EditorialFaçamos de cada dia o «Dia Mandela»
Edmundo Bragança de Sá CNo dia em que em que escrevo este editorial, 18 de Julho de 2013, comemora-se o Dia Internacional de Nelson Mandela, instituído pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em novembro de 2009. Desta forma a ONU quis, no dia do aniversário natalício de Nelson Mandela, salientar a sua dedicação ao serviço da humanidade, na resolução de conflitos, na promoção do relacionamento inter-racial, na promoção e proteção dos direitos humanos, na luta pela igualdade de géneros e direitos das crianças e outros grupos vulneráveis e ainda o seu empenho no desenvolvimento das comunidades pobres ou subdesenvolvidas. O então presidente da Assembleia Geral da ONU, Ali Abdessalam Treki, referiu-se a Mandela como «um dos maiores líderes morais e políticos de nosso tempo» e há bem poucos dias ouvi o comentador Miguel Sousa Tavares dizer que, na sua perspetiva, a capacidade de perdoar e de reconciliação de Nelson Mandela só teve paralelo na pessoa de Jesus Cristo. Nelson Rolihlahla Mandela fez 95 anos e durante 67 anos lutou, de forma pacífica, contra o regime de apartheid existente no seu país, dos quais 27 anos foram passados na cadeia. Em 1993 partilhou o Prémio Nobel da Paz com Frederik de Klerk, o então presidente do seu país, pelo contributo de ambos para o fim do apar-theid e a criação das bases fundamentais para uma coexistência pacífica entre todas as comunidades sul-africanas. Entre 1994 e 1999 foi presidente da África do Sul e, ao contrário do que muitos esperavam, conseguiu evitar a violência e desordem que se temia e, pelo contrário, através do seu extraordinário exemplo de pacifismo, coragem, lucidez, e amor ao próximo, foi o motor fundamental para que se instalasse uma democracia assente na paz social, convívio pacífico e desenvolvimento económico que são uma feliz e rara excepção no conturbado continente africano. O Dia Internacional de Nelson Mandela é um convite a todos os indivíduos, de qualquer raça ou credo, para que, passo a passo, tornem o mundo um local melhor para se viver. Pessoalmente fiquei muito impressionado com o que li e ouvi sobre o testemunho de vida de Mandela e considero que, até, do ponto de vista profissional como Médico de Família, tenho muito que crescer e melhorar para chegar ao seu nível. Uma das grandes preocupações de Nelson Mandela durante a sua presidência da África do Sul foi a de aumentar o nível de literacia do povo como um importante contributo para a implantação e fortalecimento da democracia e um instrumento de empoderamento que permite o acesso a mais educação e a melhores oportunidades de vida. Também aqui, os Médicos de Família podem seguir o exemplo de Mandela incentivando e contribuindo para o aumento da literacia de saúde dos seus utentes. Conforme vem salientado num dos artigos do simpósio deste mês, um nível elevado de literacia de saúde melhora a adesão à terapêutica e permite uma utilização mais racional dos serviços de saúde disponíveis. Antes de terminar, e a propósito deste artigo, não quero deixar de referir o ineditismo das caraterísticas do simpósio da presente edição. De facto, estou certo que «Problemas Frequentes na Consulta» é único na história da edição portuguesa da Postgraduate Medicine porque, ao contrário do que sempre é usual, em vez de se abordarem os problemas de saúde de um órgão ou sistema, desta vez são publicados artigos relacionados com o funcionamento da própria consulta, designadamente os constrangimentos que por vezes se levantam com a presença de familiares na consulta, a baixa literacia de saúde e ainda as preocupações que se deve ter quando se prescreve um fármaco novo. Desejo a todos umas boas férias. |