EditorialSetembro 2014 | Volume 42 — Número 2
Envelhecimento e saúde global
Edmundo Bragança de Sá Pelos anos 1950/60 o número de crianças com menos de 5 anos, em todo o mundo, ultrapassava em cerca de 10% o número de idosos com mais de 64 anos. Cerca de 50 anos depois estamos a assistir ao cruzamento das duas curvas populacionais com a ascensão da percentagem de idosos e o declínio da percentagem de crianças. Embora sejam os países mais desenvolvidos os que têm maior envelhecimento populacional, a maior e mais rápida taxa de crescimento dos idosos verifica-se nos países em desenvolvimento, chegando, nalguns deles, a serem já a maioria da população. Nos próximos 40 anos (até 2050) o número de idosos nos países em desenvolvimento calcula-se que aumente 250% enquanto nos países desenvolvidos esse aumento será de apenas 71%. As causas do envelhecimento populacional resultam do declínio da fertilidade e da melhoria da esperança de vida nos países mais desenvolvidos e um claro exemplo disso passa-se no nosso país em que a taxa da fertilidade caiu abaixo da taxa de substituição de gerações com a passagem de 3 para menos de 2 filhos por mulher. No entanto, onde se verificou uma baixa da fertilidade ainda mais acentuada, foi nos países menos desenvolvidos que passaram de uma média de 6 filhos, em 1950, para uma média de 2 ou 3 filhos por mulher, em 2005. Também a marcada melhoria da esperança de vida verificada ao longo do século passado é uma causa importante do envelhecimento populacional. A maior parte dos nascidos no ano 1900 não passavam dos 50 anos. Atualmente, a esperança de vida à nascença ultrapassa os 83 anos. Este aumento da esperança de vida resultou de uma alteração das principais causas de morbilidade e mortalidade. De facto, no início do século XX os principais problemas de saúde eram as doenças infeciosas e parasitárias que atingiam sobretudo os recém-nascidos e crianças com a consequente diminuição da esperança de vida. Desde o final do século passado são as doenças não comunicáveis que mais frequentemente atingem os adultos e idosos (designadamente neoplasias, doenças cardiovasculares e diabetes mellitus), constituindo as principais causas da sua morbilidade e mortalidade. Contudo, é de esperar que os contínuos avanços da medicina possam atrasar a progressão das doenças crónicas não comunicáveis, o que levará a um aumento da sobrevivência, mesmo em pessoas idosas. Os dados sobre esperança de vida entre 1840 e 2007 apontam para um crescimento sustentado de cerca de 3 meses por cada ano que passa. Com a implementação de políticas e programas de saúde global adequados, a proporção de grandes idosos (com idade igual ou superior a 80 anos) tem vindo a crescer rapidamente com cada vez mais pessoas a viverem para além dos 100 anos de vida. Em muitos países, os grandes idosos constituem já a parte da população com o crescimento mais rápido e, globalmente, o número de pessoas centenárias entre 2010 e 2050 deve aumentar dez vezes mais. Paradoxalmente, a alteração dos padrões de vida familiar, com cada vez menos filhos e maior dispersão das condições e oportunidades de trabalho, tem conduzido a um progressivo declínio do suporte familiar aos idosos. É, por isso, de grande relevância o encontro que o Papa Francisco organizou para o dia 28 de setembro com pessoas idosas chamando a atenção que os idosos não devem ser apenas objeto de atenção ou de cuidados, mas também de uma nova perspetiva de organização da sociedade. Bibliografia Global Health and Aging – World Health Organization, October 2011 |