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EditorialJaneiro-Fevereiro 2023 | Volume 52 - Número 1
Problemas frequentes: doenças que afetam o aparelho locomotor, dispepsia e cancro da mama
Teresa Ventura Os problemas do aparelho locomotor têm elevada prevalência nas consultas de Medicina Geral e Familiar (MGF) e implicam custos relevantes para os serviços de saúde. Por parte dos doentes, estes problemas de saúde podem comprometer a realização das atividades da vida diária, influenciar a autopercepção de saúde e qualidade de vida. Em muitos dos problemas do aparelho locomotor a dor é quase sempre um sintoma central, que diminui a disponibilidade para um pleno usufruto da vida, apenas permitido “no silêncio dos orgãos”, numa expressão de Leriche.(1) O insuficiente controlo da dor torna as pessoas incapazes de dominar tanto o corpo como a mente, passando a ser parte integrante da vida da pessoa doente e dos seus conviventes. Impedindo o desvio da atenção para outras atividades e pontos de interesse, a centração no sintoma afeta, quer o trabalho, quer o descanso. Em situações extremas, como o é a dor de grande severidade, poder-se-á dizer mesmo que só há corpo, alheando-se o doente do que se passa fora da sua pele. A dor e/ou a limitação funcional, presentes em problemas do aparelho locomotor, poderão obrigar a pessoa a ajustar atividades, evitando-as por incapacidade ou para não despertar dor. Em alternativa, a pessoa tem de descobrir outras formas de realizar algumas dessas atividades. Esta restrição da margem de segurança orgânica leva à perda de flexibilidade e fluidez no modo de estar na vida, permanentemente ou durante algum tempo, enquanto durar a limitação do poder de tolerância. Assim, redunda num modo de vida diferente do anterior, quando a pessoa era sadia. O peso dos problemas do aparelho locomotor na prática da MGF e a sua importância social estiveram na base da sua seleção para tema do simpósio desta edição da Postgraduate Medicine. Com os artigos que o integram pretendemos contribuir para a atualização e o aprofundamento dos conhecimentos sobre alguns dos problemas deste foro e, assim, aliviar o quotidiano do número imenso das pessoas que os vivem. Igualmente muito frequente é a dispepsia, um conceito difuso que inclui um ou vários sintomas do trato digestivo alto, que podem ter etiologias diversas. O artigo extra-simpósio que publicamos sobre este tema apresenta de uma forma prática a melhor abordagem para a avaliação e tratamento dos pacientes com dispepsia. Outro artigo extra-simpósio versa sobre cancro da mama. É uma doença com grande impacto social, não só pela sua frequência e associação à ideia de grande gravidade, mas também porque fere um órgão-símbolo na maternidade e na feminilidade. Os cuidados longitudinais assegurados pelo médico de família prestam-se a que este assegure a identificação do risco de cancro da mama e a instituição de terapêutica farmacológica nas pessoas de risco mais elevado. O artigo que publicamos sobre o tema é clarificador da melhor forma de o fazer. Não obstante a identificação dos subtipos de cancro da mama e respetivo estadiamento ser feito em meio hospitalar, o médico de família, que é quase sempre quem identifica o problema e procede à referenciação para o hospital, continua a ter responsabilidades no acompanhamento da pessoa doente, inclusive o que se relaciona com esta doença. A marcha diagnóstica e a sistematização dos tratamentos preconizados contidos no artigo sobre o tema apetrecham o médico de família para as suas intervenções de suporte, aconselhamento e esclarecimento de dúvidas de que estas pessoas doentes necessitam. Boa leitura! Referência bibliográfica 1. Leriche R. Chirugie de la douleur. Paris: Masson; 1949. |