EditorialRastreio dos distúrbios da função tiroideia
Edmundo Bragança de Sá O simpósio desta edição da PGM aborda alguns aspetos relacionados com a Patologia da Glândula Tiroideia. Conforme poderemos ler no artigo sobre hipertiroidismo subclínico, as normas da American Thyroid Association, da American Association of Clinical Endocrinologists e da The Endocrine Society, não recomendam o rastreio por rotina da disfunção tiroideia subclínica. A principal justificação relaciona-se com o facto de não existirem estudos, ou quando existem apresentam resultados limitados ou contraditórios acerca dos possíveis benefícios do tratamento da doença tiroideia subclínica, designadamente na redução da mortalidade ou na melhoria da qualidade de vida. Pelo mesmo motivo a U.S. Preventive Services Task Force concluiu que as evidências são insuficientes para recomendar a favor ou contra o rastreio por rotina em adultos. A este propósito, a Norma n.º 039/2011 da Direção-Geral da Saúde (DGS) assume uma posição intermédia não recomendando o rastreio por rotina em doentes assintomáticos (isto é, sem sintomas de hipo ou hipertiroidismo e sem bócios ou nódulos da tiróide, palpáveis ou não) mas indicando a sua realização nos seguintes casos: – Doentes sob medicação suscetível de alterar a função tiroideia, nomeadamente amiodarona ou produtos contendo iodo, lítio, inibidores da cinase da tirosina e interferão. – Doentes com patologia hipotálamo-hipofisária – Crianças com atraso de crescimento – Doentes com anemia de causa inexplicada, hipercolesterolémia, variações ponderais, doenças auto-imunes, arritmias, osteoporose, irregularidades menstruais e infertilidade. Nas grávidas, o rastreio dos distúrbios da função tiroideia está indicado se houver fatores de risco para doença da tiróide: história familiar de doenças da tiróide, diabetes mellitus tipo 1 ou outras doenças auto-imunes, abortos de repetição, irradiação cervical, tiroidectomia prévia e antecedentes ou clínica sugestiva de disfunção tiroideia. O rastreio pode ser efetuado através do doseamento sérico apenas da TSH e da T4 Livre. O doseamento das frações totais das hormonas tiroideias é afetado por fármacos como os contracetivos orais, ou por lesões hepáticas que aumentam as proteínas de transporte das hormonas tiroideias e consequentemente elevam os valores de T3 e T4 totais. É necessário ter em consideração que durante a gravidez os valores de referência da TSH são mais baixos e que aumentam progressivamente ao longo de cada trimestre. Também na interpretação dos resultados laboratoriais da função tiroideia é preciso ter em conta que os mesmos podem ser influenciados por algumas situações que não estão relacionadas com a glândula tiroideia como cirurgias, doenças febris, enfarte agudo do miocárdio, malnutrição, insuficiência renal ou cardíaca, doenças hepáticas, diabetes não controlada, doença vascular cerebral ou neoplasias. Esta condição é conhecida por Síndrome do Doente Eutiroideu ou Euthyroid Sick Syndrome conforme vem também referido no artigo do simpósio sobre Hipertiroidismo Subclínico. |