Editorial20 anos em colaboração estreita com a MGF portuguesa
Edmundo Bragança de Sá Os leitores mais atentos deverão ter notado que a capa da nossa primeira revista de 2014 traz um símbolo diferente. De facto, foi precisamente em Janeiro de 1994, sob a direção do Dr. João Amoedo, que nasceu o primeiro número da Edição Portuguesa da Postgraduate Medicine. Por essa altura, estava eu a dar os primeiros como especialista em Medicina Geral e Familiar (MGF) no Centro de Saúde de Serpa quando a revista me veio parar às mãos. Já não me lembro bem nem como, nem porquê. O nome fez-me lembrar algumas das revistas que no Internato de MGF os meus orientadores recomendavam a leitura, mas cujo acesso era difícil e dispendioso. Ávido como estava de, por um lado, aumentar e atualizar os meus conhecimentos para enfrentar as dificuldades que a prática clínica em meio rural me colocava diariamente e, por outro lado, de fazer crescer o meu currículo profissional para progredir rapidamente na carreira, a Edição Portuguesa da Postgraduate Medicine vinha diretamente ao encontro das minhas necessidades. Apercebi-me rapidamente que, com uma leitura atenta da revista, ia conseguindo fazer mensalmente uma revisão rápida e prática de muitos temas que interessavam a MGF. Mas o que mais me atraiu na revista foi o seu Programa de Formação Médica Contínua FMC), inédito – e acrescentaria pioneiro – nas revistas médicas portuguesas e cuja participação era validada curricularmente pelo então Instituto de Clinica Geral da Zona Sul (ICGZS) sob a direção do saudoso Professor Doutor José Guilherme Jordão. Desde então nunca mais deixei de ser um leitor atento da revista e um participante assíduo do seu Programa de FMC. Se a qualidade e diversidade dos artigos (…de acordo com as estatísticas foram 1824 até Dezembro passado!...) muito me agradavam, existiam ainda outras duas originalidades que também muito contribuíram para que nunca mais deixasse de ser um leitor atento e ansioso pela chegada da revista: era o facto de haver sempre um conjunto de artigos, abarcando o mesmo tema, em forma de simpósio, e uma utilíssima página de Conselhos aos Doentes (… que eu reproduzia oralmente no programa semanal de uma das Rádios locais). Se tudo isto, por si só, já contribuíam profundamente para que me sentisse reconhecido pelas edições mensais da Postgraduate Medicine, logo em Maio do seu primeiro ano surgiu um outro acontecimento que igualmente muito me agradou: foi publicado um teste do Harrison’s que permitia, a quem obtivesse a melhor classificação, participasse numa das mais prestigiadas atividades formativas promovidas pela “Interstate Postgraduate Medical Association” (IPMA), o Primary Care Update. Este curso, com a duração de 3 a 4 dias bem preenchidos (entre as 8 e as 17:00), reúne anualmente mais de 2000 médicos de família americanos e canadianos e faz uma revisão de todas as especialidades médicas, desde a dermatologia à ginecologia, cirurgia, hematologia, oncologia, etc. Tem ainda a vantagem de, em cada ano, ser realizado num estado diferente dos Estados Unidos o que permite aos participantes ir conhecendo diferentes locais da América. Lembro-me como se fosse ontem que, logo num dos primeiros anos da minha participação (em 1996) em que fui um dos vencedores, o Primary Care Update decorreu na cidade de Washington. Nessa altura, tive o prazer de acompanhar o colega Manuel Jorge Silva Cruz, que foi igualmente um dos vencedores e fomos acompanhados pelo Editor da Postgraduate Medicine, Sr. Manuel Magalhães e ainda pelo Prof. Guilherme Jordão, na qualidade de Diretor do ICGZS. Não posso deixar de referir a viagem de regresso, via Nova York, em que fizemos uma curta paragem e o Prof. Jordão teve a amabilidade de me servir de cicerone na minha primeira visita à cidade. Depois disso, outros prémios se sucederam, tanto para os cursos da IPMA como para os Congressos Mundiais da WONCA resultantes da participação no Programa de Formação Médica Contínua. Lembro, a propósito, que ao longo de 20 anos a Postgraduate Medicine possibilitou que 38 médicos portugueses fossem aos Estados Unidos participarem no Primary Care Update e que, igualmente graças ao seu Programa anual de FMC, 78 participassem nos congressos da WONCA em todo os cinco continentes. No ano 2003, na sequência do súbito desaparecimento do Professor José Guilherme Jordão, fui convidado para ser o Diretor da Postgraduate Medicine. Embora com algumas dúvidas sobre a minha capacidade de poder manter os mesmos níveis qualitativos que os Diretores anteriores e toda a equipa redatorial me tinham deixado por herança, aceitei com honra o cargo e ao fim de 12 anos permaneço empenhado, como no primeiro dia para que a Postgraduate Medicine possa continuar a ter a elevada qualidade que nos habituou e permaneça uma referência nacional na formação médica contínua. Nesse sentido, e apesar dos investimentos publicitários (que são o principal sustentáculo para a publicação da revista) serem cada vez mais escassos, tem-se continuado a publicar artigos de grande qualidade e atualidade e, embora com muita dificuldade, tem-se conseguido manter aquela que considero ser a nossa marca de distinção, o Programa de FMC, que atualmente é validado curricularmente pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Nova de Lisboa. A Postgraduate Medicine está de parabéns e com ela todos os nossos leitores e assíduos participantes do Programa de Formação Médica Contínua que nos dão o alento para continuarmos a ser uma referência entre as publicações médicas nacionais. |