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Editorial

Setembro-Outubro 2021 | Volume 50 - Número 5

Saúde e doença mental

José Mendes Nunes

O presente número é dedicado à Saúde Mental, no entanto, talvez, o mais correto fosse à Doença Mental.

A saúde mental define-se como o “estado de bem-estar em que o individuo tem consciência da sua capacidade de manter atividades produtivas, construir e manter relações gratificantes com outras pessoas, de se adaptar à mudança e de lidar com a adversidade. Desde a infância até à velhice, a saúde mental é a base do pensamento e das capacidades comunicacionais, de aprendizagem, do crescimento emocional, resiliência e autoestima, e é capaz de contribuir para a comunidade”.(1) Não há saúde sem saúde mental. Por isso, assumindo que os médicos de família são os especialistas da saúde, devem assumir o objetivo de promover a saúde total. Na verdade, têm preocupação com a promoção da saúde física, mas a promoção da saúde mental continua largamente ignorada. Mesmo na formação específica a área mental fica reduzida à patologia, descurando a saúde mental e seria importante ou mesmo imprescindível olhar para as “vacinas” da saúde mental como olhamos para as vacinas das doenças físicas. Sabemos que a promoção de comportamentos parentais que gera no futuro adulto autoestima e resiliência. Cerca de 70% da patologia mental do adulto desenvolve-se antes do final da adolescência. Contudo, toda a atenção vai para a doença e quantas vezes se medicalizam situações que são normais para os contextos em que as pessoas vivem.

A OMS definiu as perturbações mentais comuns como as que devem ser da responsabilidade dos cuidados primários de saúde, sem prejuízo do apoio da Psiquiatria, a saber: perturbações depressivas, perturbações de ansiedade e perturbações somatoformes.(2) Neste número chama-se atenção para importância de a abordagem da depressão dever ser centrada na pessoa porquanto ela se correlaciona com o sucesso terapêutico, o que implica a pessoa poder escolher o tipo de ajuda que deseja: farmacológico, psicoterapia ou outra. No âmbito das perturbações ansiosas, descrevem-se as abordagens das fobias tão frequentes na prática da MGF, cuja atitude se for centrada na doença é iatrogénica, colocando diagnósticos que, por mais que sejam desmentidos à posteriori, não mais deixam de existir para o doente, sendo mesmo sujeito a terapêuticas inúteis ou mesmo nocivas.

A literatura é consensual em identificar o subdiagnóstico como um dos principais problemas no controlo das perturbações mentais. Por isso publicamos o artigo sobre os instrumentos de rastreio de saúde comportamental. Entre nós não é muito habitual o uso de tais instrumentos, argumentando-se com o tempo que exigem, embora uma justificação para o uso destas ferramentas seja, precisamente, poupar tempo. Alguns destes instrumentos são de autopreenchimento o que numa população com elevado analfabetismo funcional é impraticável. No entanto, não deixam de ser instrumentos importantes para suspeitar do diagnóstico e, também, para avaliar o impacto da intervenção terapêutica. Para além dos sites mencionados no artigo, podem descarregar, do sítio http://www.phqscreeners.com/select-screener, alguns instrumentos destes, na língua que quiserem, o que pode ser muito útil para usar com as populações migrantes que servimos.

Para os mais céticos, relembro o recurso a duas perguntas que se têm revelado com elevado poder de rastreio de perturbação mental: 1) “Durante o último mês sentiu-se, frequentemente, aborrecido, deprimido ou sem esperança?”; 2) “Durante o mês passado foi, frequentemente, incomodado por falta de interesse ou prazer em fazer as coisas?” Estas duas perguntas têm sensibilidade de 96%, especificidade de 78%. Mas se acrescentarmos a pergunta “Trata-se de alguma coisa para a qual gostaria de ter ajuda?”, a especificidade sobe para 89%.(3)

Termino reiterando a necessidade do MF procurar formação sobre saúde mental, tendo a consciência que essa não tem interesse para a indústria farmacêutica nem é paga pelos seguros de saúde.

Referências bibliográficas
1.
World Health Organization. Promoting mental health: concepts, emerging evidence, practice (Summary Report) Geneva: World Health Organization; 2004.
2. World Health Organization. The world health report 2001—mental health: new understanding, new hope. Geneva: WHO, 2001.
3. Williams JW, Mulrow CD, Kroenke K, et al. Case-finding for depression in primary care: A randomized trial. Am J Med. 1999;106:36-43.
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