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EditorialJaneiro-Fevereiro 2022 | Volume 51 - Número 1
Não matam, mas doem
José Mendes Nunes* Os problemas musculoesqueléticos (PME) não são causas importantes de mortalidade. Mesmo como causa de neoplasias, são relativamente pouco frequentes, mas, quase sempre, determinam sofrimento e incapacidade. Como diz o povo: “não matam, mas moem”. Embora, neste caso, o mais correto seja dizer: “não matam, mas doem”. De facto, o principal sintoma dos PME é a dor e a sua consequência – a incapacidade motora. Não admira, então, que seja uma das principais causas de absentismo, com todas as consequências económicas e, sobretudo, impacto na qualidade de vida destes doentes e de quem os rodeia. Os PME são a segunda causa de incapacidade laboral, só ultrapassados pelas perturbações mentais, embora a estatística ignore a interligação entre os dois tipos de problemas: os PME agravam os problemas mentais e vice-versa. No presente número, publicamos artigos sobre PME frequentes na prática clínica e que o médico de família deve abordar de forma confiante e decidida, sob pena de correr o risco de ser responsável por sofrimento evitável. A dor torácica apresenta difíceis desafios de diagnóstico e o medo de falhar o está omnipresente. Neste receoso contexto, o clínico tende a tomar decisões, mais com vista a minimizar o seu arrependimento, do que na base dos indícios clínicos e no melhor interesse do doente. O artigo sobre a costocondrite apresenta informação muito prática para o diagnóstico diferencial de dor torácica, com base na anamnese e observação do doente, apresentando ensinamentos pertinentes que vão muito para além da costocondrite. O artigo da osteoporose aborda o diagnóstico, a prevenção e o tratamento. A forma mais eficaz de evitar os efeitos nefastos da osteoporose é preveni-la e o exercício físico é um dos principais meios de o fazer. Contudo, importa ter presente que para evitar o problema da osteoporose não se deve arranjar outro e, neste sentido, é oportuno o artigo sobre “como ajudar os corredores” a evitarem lesões. Partilho da ideia de não existirmos para evitar a morte, mas para minimizar o sofrimento e criar bem-estar. Então, importa não nos dedicarmos predominantemente àquilo que causa a morte, mas àquilo que reduz anos de vida com qualidade. É urgente que os serviços de saúde e, em particular, os médicos de família, como profissionais responsáveis pela prestação de cuidados integrais, se deixem (ou os deixem!) de se focar e dedicar em exclusivo a uma patologia, para abordar equitativamente todas as que causam sofrimento nas pessoas com as quais assumiram o compromisso de lhes prestarem cuidados de saúde de acordo com as suas necessidades. * Professor Auxiliar da NOVA Medical School/Faculdade de Ciências Médicas, Universidade Nova de Lisboa. Assistente Graduado Sénior da USF de Alpiarça (ACeS da Lezíria). E-mail: [email protected] |