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EditorialJulho-Agosto 2017 | Volume 46 — Número 4
Obesidade: uma epidemia evitável
Edmundo Bragança de Sá Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) dão-nos conta que em todo o mundo a obesidade mais que duplicou entre 1980 e 2014. Em 2014 mais de 1,9 mil milhões de adultos com idade igual ou superior a 18 anos tinha excesso de peso, isto é, tinham um Índice de Massa Corporal (IMC) ≥ 25. Destes, cerca de 600 milhões de adultos eram obesos (IMC ≥ 30). Contudo, não se trata apenas de um problema de adultos. No mesmo ano em que foram efetuadas as estimativas para os adultos, verificou-se que cerca de 41 milhões de crianças com menos de 5 anos de idade também tinham excesso de peso (peso para altura superior a 2 desvios padrões da média da curva de crescimento para crianças da OMS) ou obesidade (peso para altura superior a 3 desvios padrões). Ao contrário do que se poderia pensar, o excesso de peso e obesidade nas crianças já não é apenas um problema dos países muito desenvolvidos, mas atinge também os países menos desenvolvidos, em particular nas suas áreas urbanas. Por exemplo, em África, o número de crianças com excesso de peso, ou obesidade, quase que duplicou, passando de 5,4 milhões em 1990 para 10,6 milhões em 2014. Globalmente, excetuando as regiões da Ásia e da África sub-Sahariana, há mais pessoas obesas do que com peso a menos e isso tem sido também associado a uma maior mortalidade. O IMC é considerado como a medida mais utilizada e fiável para medir a obesidade e o excesso de peso numa população adulta pela sua facilidade de aplicação em ambos os sexos e a todas as idades adultas. No entanto, deve ter-se em consideração que pode não corresponder ao mesmo Índice de Massa Gorda nos diferentes indivíduos e isso é importante quando se está a estabelecer um plano para perda de peso. Um IMC elevado constitui um risco major de doenças cardiovasculares (em particular de acidente vascular cerebral e doença cardíaca), diabetes mellitus, problemas músculo-esqueléticos (como as osteoartroses) e alguns cancros (incluindo o cancro do endométrio, mama, ovário, próstata, fígado, bexiga, rim e cólon). A obesidade na infância está associada a um maior risco de vir a existir obesidade, incapacidade e morte prematura na idade adulta. Para além disso, as crianças obesas apresentam dificuldade respiratória, maior risco de fraturas, hipertensão arterial, marcadores precoces de doença cardiovascular, insulinorresistência e efeitos psicológicos. A causa fundamental da obesidade e do excesso de peso é o desequilíbrio energético entre as calorias consumidas e as calorias despendidas. De facto, o que se tem verificado em todo o mundo é que tem havido um aumento do consumo de alimentos densos em energia com elevada gordura e, paralelamente, um aumento da inatividade física resultante da forma de trabalhar de muitas profissões, alteração dos meios de transporte e aumento da urbanização. A OMS alerta que estas alterações deletérias nos padrões de dieta e de atividade física são frequentemente o resultado de políticas ambientais e sociais em diversos sectores, como a agricultura, o urbanismo, a saúde, a educação, os transportes e o processamento, distribuição e comércio de alimentos. Pode-se assim dizer que a obesidade e o excesso de peso, assim como as doenças associadas, são, em grande medida, evitáveis através de políticas que tornem a escolha de alimentos saudáveis e de atividade física regular uma escolha acessível, disponível e fácil. A nível da sociedade é necessário que cada individuo se sinta apoiado e estimulado a seguir um estilo de vida saudável. Vários exemplos têm sido implementados no nosso País, designadamente a criação de vias pedonais e circuitos de manutenção, a colocação de aparelhos de treino de resistência em locais acessíveis, a criação de impostos sobre alimentos e bebidas com elevado teor de açúcar ou gordura. Em tempo de férias, é importante que cada um de nós, profissionais de saúde, dê o exemplo aproveitando para escolher alimentos saudáveis, aumentar a atividade física e manter o peso ideal. Boas férias! |