EditorialMaio 2015 | Volume 43 — Número 5
Saúde da mulher
Edmundo Bragança de Sá Como é nosso hábito no mês de maio, o simpósio da edição é dedicado aos problemas cardiovasculares e, neste ano, à Doença Coronária na Mulher. Esta opção teve por base um recente alerta da Organização Mundial da Saúde(OMS) sobre os dez aspetos fundamentais da saúde da mulher (http://www.who.int/life-course/news/2015-intl-womens-day/en/). Frequentemente pensadas como sendo um problema dos homens, as doenças cardiovasculares são, atualmente, a principal causa de mortalidade nas mulheres, sendo igualmente repartidas pelas doenças coronárias e pelas doenças vasculares cerebrais. Conforme referido nos artigos do simpósio, vários fatores contribuem para o aumento da prevalência de doenças cardiovasculares nas mulheres após a menopausa (quando deixam de estar sob a proteção dos estrogénios ováricos) designadamente o tabagismo, a inatividade física e uma dieta pouco saudável. A obesidade atinge mais de 50% das mulheres da Europa e dos Estados Unidos e isso favorece o aparecimento de síndrome metabólica e dislipidémia aterogénica com baixos níveis de colesterol HDL. As evidências têm demonstrado os efeitos nefastos cardiovasculares da associação do consumo de tabaco com a utilização de pilula contracetiva combinada nas mulheres com mais de 35 anos. Também a evolução da doença aterosclerótica coronária nas mulheres é diferente dos homens, sendo mais difusa e não tanto pelo desenvolvimento de placas focais. O enfarte do miocárdio resulta frequentemente da erosão e não por rotura da placa e a microembolização distal resultante não facilita a revascularização pós-enfarte. Isso pode explicar a mais elevada mortalidade das mulheres no primeiro ano após o primeiro enfarte do miocárdio em comparação com os homens (38% versus 25%). Os outros aspetos da saúde da mulher que o documento da OMS faz referência dizem respeito à esperança média de vida que é, em média, quatro anos maior que nos homens embora com diferenças regionais significativas que vão desde os 58 anos em África até aos 80 anos nos países muito desenvolvidos. O cancro da mama é a principal causa de morte por cancro nas mulheres entre os 20 e os 59 anos em todo o mundo. O cancro do colo do útero é o segundo tipo de cancro mais frequente nas mulheres e está relacionado com a transmissão sexual do Vírus do Papiloma Humano. Nas raparigas adolescentes que vivem em países desenvolvidos, os acidentes de viação constituem a principal causa de morte. Neste grupo etário, o consumo de tabaco e álcool também tem vindo a crescer com implicações na saúde cardiovascular quando atingirem a idade adulta. Como não podia deixar de ser, o documento da OMS refere que a violência atinge cerca de 35% das mulheres em todo o mundo. Globalmente, cerca de 38% dos homicídios de mulheres são cometidos por parceiros sexuais. As mulheres vitimas de violência física ou sexual têm taxas mais elevadas de doença mental (depressão, abuso de álcool), gravidez não desejada, abortos e doenças sexualmente transmissíveis (incluindo HIV). De forma crescente, a violência sobre mulheres tem sido utilizada com tática de guerra em muitos conflitos regionais e tribais. Não podemos terminar este editorial sem uma referência ao Dia Mundial Sem Tabaco que se comemora no dia 31 de maio, este ano relacionado com o comércio ilegal de tabaco: “Cuidado! Tabaco ilegal”. Quis a OMS chamar a atenção pelo facto do comércio ilegal do tabaco ser promovido não só por organizações que desta forma financiam outras atividades criminosas como o tráfico de mulheres, drogas, armas e terrorismo, mas em parte pela própria indústria tabaqueira; desta forma o tabaco torna-se acessível a crianças, adolescentes e pessoas com fracos recursos, contrariando e boicotando as campanhas que têm sido desenvolvidas para o controlo do tabagismo como o aumento de impostos sobre o tabaco e a colocação de mensagens e fotografias nos maços de tabaco. |